Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Graça Moura, o primo do outro

O maestro que adorava lingerie de senhora, charutos e andar de balão

Miguel Graça Moura foi acusado do crime de peculato por apropriação indevida de bens. Durante os 11 anos dirigiu a Orquestra Metropolitana de Lisboa o total dos fundos públicos indevidamente gastos a título pessoal ascende a 720 mil euros.




"Para estimar o total de 720 mil euros, o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa considerou despesas efectuadas pelo maestro, indistintamente com cartões de débito e crédito, próprios e da AMEC, de 1996 a 2001. Entre elas estavam a renda e gastos relativos à casa do maestro, estadias em estâncias de luxo, passagens aéreas em primeira classe - em nome do maestro e de terceiros, alheios à associação -, viagens de balão e helicóptero, limusinas, artigos de decoração, vestidos, charutos cubanos, jóias e até lingerie." CM

Se houvesse dúvidas em relação ao uso tresloucado da batuta pelo maestro Graça Moura, elas diluem-se facilmente depois destes números: viagens em seu nome e não só- 214.377 euros, com destinos como os Estados Unidos, Argentina, México, Tailândia e Singapura (muitas em 1ª classe). Entre 1996 e 2002, o maestro apresentou gastos em refeições superiores a 80 mil euros. Em CD e livros apresentou despesas de 52.542 euros. Quanto a compras diversas, desde aparelhagens áudio, gravadores, jóias, vinhos, mobiliário e obras de arte, Graça Moura terá gasto mais de 240 mil euros.

Cada um gasta o que quer e ninguém tem nada a ver com o assunto. E eu acho que é de louvar que alguém gaste o dinheiro que tanto lhe custou a amealhar em passeios de balão e de helicóptero se é um sonho ou ambição antiga. O assunto aqui só começou porque o maestro Graça Moura fazia uma certa confusão entre o dinheiro dele e o dos fundos públicos que geria, o que é lamentável. E vai daí desatou a comprar cuequinhas e soutiens com o dinheiro que supostamente seria para a Orquestra. Ora como a Orquestra que se saiba nunca actuou em lingerie levantou-se um problema. Quem usava as cuequinhas de renda? Quem bebia o vinho? Quem andava no balão? E o que para o maestro durante algum tempo deve ter sido um enorme prazer acabou por se tornar numa grande chatice.

Em relação a este senhor eu só tenho a dizer uma coisa. Caso se prove, e não parecem restar grandes duvidas, de que foram usados fundos públicos num montante obsceno durante anos de forma leviana e para seu uso privado e descarado, espero que pelo menos durante o mesmo número de anos vá dirigir a orquestra sinfónica do Estabelecimento Prisional do Linhó. E se entender que os músicos detidos devam actuar em cuequinhas de renda força, desde que as pague do seu próprio bolso.


Texto e imagem in Expresso online, 17-01-2011
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