Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 8 de julho de 2024

A sentença do 'FILHO DA PUTA'



 

Uma das histórias judiciais que ficaram célebres, na primeira metade do século XX, relaciona-se com a defesa de um arguido acusado de chamar "filho da puta" ao ofendido, expressão que, na altura, era considerada ainda mais ofensiva.
Nas suas alegações, o brilhante advogado Amílcar Ramada Curto (na foto), também escritor, também jornalista, começou por chamar a atenção do juiz para o facto de muitas vezes se utilizar essa expressão em termos elogiosos ("Ganda filho da puta, és o melhor de todos!") ou carinhosos ("Dá cá um abraço, meu grande filho da puta!"), tendo concluído as suas alegações da seguinte forma:
"E até aposto que, neste momento, V. Exa. está a pensar o seguinte: 'Olhem lá do que este filho da puta não se havia de ter lembrado só para safar o seu cliente !' . . .".
Chegada a hora da sentença, o juiz vira-se para o réu e diz:
"O senhor está absolvido, mas bem pode agradecer ao filho da puta do seu advogado".

------------

Biografia de Amílcar Ramada Curto:
Amílcar da Silva Ramada Curto (Lisboa, 6 de abril de 1886 — Lisboa, 18 de outubro de 1961) foi um advogado, escritor e político. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi advogado, jornalista e escritor.
Nasceu em Lisboa, filho de João Rodrigues Ramada Curto e de sua mulher Delfina Guiomar da Silva. Era sobrinho paterno do médico militar e político António Duarte Ramada Curto. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, iniciando enquanto estudante a sua militância no Partido Republicano Português.
Terminado o curso instalou-se em Lisboa como advogado, mantendo intensa atividade forense. Envolvido na propaganda republicana, também se dedicou ao jornalismo e à escrita. Com o derrube da Monarquia, e a implantação da República Portuguesa a 5 de outubro de 1910, Ramada Curto foi eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1911, destinada e elaborar a constituição do novo regime. Com a aprovação da Constituição Portuguesa de 1911 foi um dos deputados que manteve assento na Câmara dos Deputados do Congresso da República, além de funções no Governo, como a de Ministro das Finanças a 30 de Março de 1919.
Enquanto escritor, Ramada Curto teve na sua intensa atividade forense o fermento das personagens que criou, de onde salta a sua riqueza psicológica. Foi acima de tudo dramaturgo, com mais de 30 peças escritas. Destaca-se a sua obra Recompensa, tendo sido quase sempre fiel a um realismo naturalista, por vezes extremo. Há em Ramada Curto certa preocupação de fundo moralizante e de critica social e de costumes, ainda hoje com momentos de interesse estético e ideológico.
Tem colaboração em A Farsa (1909-1910) e também na II série da revista Alma Nova (1915-1918) começada a publicar em Faro no ano de 1914, bem como na revista Atlântida (1915-1920) e na edição mensal do Diário de Lisboa (1933).
Foi Juiz Conselheiro e 11.° Presidente do Tribunal de Contas de 15 de Maio de 1926 a 27 de Julho de 1927, depois da Implantação da Ditadura Militar.
Entre 1931 e 1932 foi o 32.º Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano.
Nunca aceitou condecorações por ser membro da Maçonaria.
(Fonte: Wikipédia)

Sem comentários:

Contador, desde 2008:

Localizador, desde 2010:

Acerca de mim

A minha foto
"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.