Uma das histórias judiciais que ficaram célebres, na primeira metade do século XX, relaciona-se com a defesa de um arguido acusado de chamar "filho da puta" ao ofendido, expressão que, na altura, era considerada ainda mais ofensiva.
Nas suas alegações, o brilhante advogado Amílcar Ramada Curto (na foto), também escritor, também jornalista, começou por chamar a atenção do juiz para o facto de muitas vezes se utilizar essa expressão em termos elogiosos ("Ganda filho da puta, és o melhor de todos!") ou carinhosos ("Dá cá um abraço, meu grande filho da puta!"), tendo concluído as suas alegações da seguinte forma:
"E até aposto que, neste momento, V. Exa. está a pensar o seguinte: 'Olhem lá do que este filho da puta não se havia de ter lembrado só para safar o seu cliente !' . . .".
Chegada a hora da sentença, o juiz vira-se para o réu e diz:
"O senhor está absolvido, mas bem pode agradecer ao filho da puta do seu advogado".
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Biografia de Amílcar Ramada Curto:
Amílcar da Silva Ramada Curto (Lisboa, 6 de abril de 1886 — Lisboa, 18 de outubro de 1961) foi um advogado, escritor e político. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi advogado, jornalista e escritor.
Nasceu em Lisboa, filho de João Rodrigues Ramada Curto e de sua mulher Delfina Guiomar da Silva. Era sobrinho paterno do médico militar e político António Duarte Ramada Curto. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, iniciando enquanto estudante a sua militância no Partido Republicano Português.
Terminado o curso instalou-se em Lisboa como advogado, mantendo intensa atividade forense. Envolvido na propaganda republicana, também se dedicou ao jornalismo e à escrita. Com o derrube da Monarquia, e a implantação da República Portuguesa a 5 de outubro de 1910, Ramada Curto foi eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1911, destinada e elaborar a constituição do novo regime. Com a aprovação da Constituição Portuguesa de 1911 foi um dos deputados que manteve assento na Câmara dos Deputados do Congresso da República, além de funções no Governo, como a de Ministro das Finanças a 30 de Março de 1919.
Enquanto escritor, Ramada Curto teve na sua intensa atividade forense o fermento das personagens que criou, de onde salta a sua riqueza psicológica. Foi acima de tudo dramaturgo, com mais de 30 peças escritas. Destaca-se a sua obra Recompensa, tendo sido quase sempre fiel a um realismo naturalista, por vezes extremo. Há em Ramada Curto certa preocupação de fundo moralizante e de critica social e de costumes, ainda hoje com momentos de interesse estético e ideológico.
Tem colaboração em A Farsa (1909-1910) e também na II série da revista Alma Nova (1915-1918) começada a publicar em Faro no ano de 1914, bem como na revista Atlântida (1915-1920) e na edição mensal do Diário de Lisboa (1933).
Foi Juiz Conselheiro e 11.° Presidente do Tribunal de Contas de 15 de Maio de 1926 a 27 de Julho de 1927, depois da Implantação da Ditadura Militar.
Entre 1931 e 1932 foi o 32.º Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano.
Nunca aceitou condecorações por ser membro da Maçonaria.
(Fonte: Wikipédia)
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