«Uma entrevista que dei a um semanário nacional produziu uma pequena tempestade num copo de água onde o folclore gira em torno do acessório e procura fugir deliberadamente ao essencial. O grande dilema dos medíocres é se voto ou não voto em Sócrates, coisa sem sentido e sem significado, que só os profissionais da ligeireza, mesmo que se arroguem em intelectuais, podem ter como assunto de conversa.
O problema não será em que eu voto. Aquilo que se percebe nesta reacção empedernida, fortemente serventuária e servil, é que isso é relevante. Aliás, confesso que não sei como vou votar. A verdade é que este é o pretexto para, mais uma vez, se fugir a um debate que anda sempre entranhado nas intenções de todos os partidos e que é sempre afastado da mesma forma: ou seja, como é possível dar transparência à nossa vida política e pública e não ser amaldiçoado pela suspeição apenas por ser candidato seja aquilo que for.
Devo dizer, que a maioria dos apressados professores da social-democracia que, indignados, vieram falar de traições, surpresa, desilusão, oportunismo e outros disparates inqualificáveis, ignoram o peso e a força da memória. Alguns deles nunca fizeram, em nome do PSD, mais nada a não ser garantir lugares, tachos e promoções pessoais. Embora com vida política muito curta, entreguei ao PSD uma das mais históricas Câmaras socialistas, numa vitória que muitos dos actuais 'moralistas de pacotilha' perseguiram durante trinta anos e nunca conseguiram. E agora, o PSD, quatro anos depois, pode mostrar uma Santarém alegre e brilhante, que vibra, que se modernizou e da qual o partido que me apoiou, e de cujo apoio me sinto honrado, pode mostrar sem vergonha como exemplo de uma gestão dinâmica, competitiva e séria.
A segunda questão é do foro pessoal. Muitos daqueles cuja pretensa independência não passou da dependência conveniente para se servir do PSD, como outros se servem de outros partidos, jamais aceitaram que ser independente é ter uma voz livre. Será independente se for fiel ao dono, ao chefe de ocasião, á vontade soberana de um líder. Não sou assim. Escrevo há anos defendendo aquilo em que acredito, criticando aquilo em que não acredito. Seja qual for o partido. E julgo, ainda hoje estou convencido, que foi essa atitude de livre pensador que levou o PSD a convidar-me para tentar ganhar a autarquia de Santarém. Ganhámos. E tornaram a convidar-me para voltar a reconquistar para o PSD esta grande cidade, que juntos, militantes do PSD e muitos independentes transformaram quase por milagre numa cidade e num concelho próspero, ainda mais belo e mais atractivo. Aceitei. E é sabido que aceitei honrado este novo desafio. Enfrentá-lo-ei em nome do PSD e com energia suficiente para depois deixar o cargo, quando chegar a hora, com a tranquilidade de quem cumpriu o seu dever. Primeiro com Santarém. Depois com o partido que me apoia.
A terceira questão é o nervosismo histérico que se apossou dos serventuários sem outra utilidade que não seja a intriga e o lamber de botas a qualquer dono, desde que estejam servidos, por afirmar que temos boas relações com o Governo. Os puristas de ocasião queriam uma batalha sem tréguas contra o inimigo da fé. Uma espécie de cruzada redentora. A verdade é que esses trolhas da política nunca perceberam que o compromisso de um autarca é com os seus munícipes. Por Santarém é minha obrigação moral, ética e política procurar as melhores relações que sirvam os munícipes deste concelho. É minha obrigação servi-los. É a única obrigação partidária que tenho: servi-los e servi-los bem. Sem condições. Sem preconceitos. Servir até ao tutano dos ossos. Mas isto é coisa que o pretensos moralistas encartados nunca perceberão. É assim a crença de um homem livre e independente. Primeiro Santarém. É o compromisso que assumi com o PSD e levarei até às ultimas consequências, pesem os dardos envenenados e os insultos de ocasião. E o segundo compromisso é para discutir com seriedade. Ou seja, saber se queremos uma prática política clara, transparente, sem suspeições, ou se queremos continuar a nadar neste pântano de denúncias, de processos mal resolvidos, de anátemas contra a honra de qualquer um. Mas sobre isto não falam os pregadores da pureza. Fogem. A cobardia sempre se escondeu por detrás da retórica. De facto é muito grande este partido que consegue albergar o que de melhor existe na sociedade portuguesa e, ainda, parte dos oportunistas que se repartem pelos restantes partidos.
Calo-me. Não falarei mais para este caixote do lixo. Santarém é grande demais para perder mais tempo com esta tempestade de mesquinhez.»
Francisco Moita Flores, Diário de Notícias online, 20-8-2009
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