Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Francisco Moita Flores: Clareza...

«Uma entrevista que dei a um semanário nacional produziu uma pequena tempestade num copo de água onde o folclore gira em torno do acessório e procura fugir deliberadamente ao essencial. O grande dilema dos medíocres é se voto ou não voto em Sócrates, coisa sem sentido e sem significado, que só os profissionais da ligeireza, mesmo que se arroguem em intelectuais, podem ter como assunto de conversa.

O problema não será em que eu voto. Aquilo que se percebe nesta reacção empedernida, fortemente serventuária e servil, é que isso é relevante. Aliás, confesso que não sei como vou votar. A verdade é que este é o pretexto para, mais uma vez, se fugir a um debate que anda sempre entranhado nas intenções de todos os partidos e que é sempre afastado da mesma forma: ou seja, como é possível dar transparência à nossa vida política e pública e não ser amaldiçoado pela suspeição apenas por ser candidato seja aquilo que for.

Devo dizer, que a maioria dos apressados professores da social-democracia que, indignados, vieram falar de traições, surpresa, desilusão, oportunismo e outros disparates inqualificáveis, ignoram o peso e a força da memória. Alguns deles nunca fizeram, em nome do PSD, mais nada a não ser garantir lugares, tachos e promoções pessoais. Embora com vida política muito curta, entreguei ao PSD uma das mais históricas Câmaras socialistas, numa vitória que muitos dos actuais 'moralistas de pacotilha' perseguiram durante trinta anos e nunca conseguiram. E agora, o PSD, quatro anos depois, pode mostrar uma Santarém alegre e brilhante, que vibra, que se modernizou e da qual o partido que me apoiou, e de cujo apoio me sinto honrado, pode mostrar sem vergonha como exemplo de uma gestão dinâmica, competitiva e séria.

A segunda questão é do foro pessoal. Muitos daqueles cuja pretensa independência não passou da dependência conveniente para se servir do PSD, como outros se servem de outros partidos, jamais aceitaram que ser independente é ter uma voz livre. Será independente se for fiel ao dono, ao chefe de ocasião, á vontade soberana de um líder. Não sou assim. Escrevo há anos defendendo aquilo em que acredito, criticando aquilo em que não acredito. Seja qual for o partido. E julgo, ainda hoje estou convencido, que foi essa atitude de livre pensador que levou o PSD a convidar-me para tentar ganhar a autarquia de Santarém. Ganhámos. E tornaram a convidar-me para voltar a reconquistar para o PSD esta grande cidade, que juntos, militantes do PSD e muitos independentes transformaram quase por milagre numa cidade e num concelho próspero, ainda mais belo e mais atractivo. Aceitei. E é sabido que aceitei honrado este novo desafio. Enfrentá-lo-ei em nome do PSD e com energia suficiente para depois deixar o cargo, quando chegar a hora, com a tranquilidade de quem cumpriu o seu dever. Primeiro com Santarém. Depois com o partido que me apoia.

A terceira questão é o nervosismo histérico que se apossou dos serventuários sem outra utilidade que não seja a intriga e o lamber de botas a qualquer dono, desde que estejam servidos, por afirmar que temos boas relações com o Governo. Os puristas de ocasião queriam uma batalha sem tréguas contra o inimigo da fé. Uma espécie de cruzada redentora. A verdade é que esses trolhas da política nunca perceberam que o compromisso de um autarca é com os seus munícipes. Por Santarém é minha obrigação moral, ética e política procurar as melhores relações que sirvam os munícipes deste concelho. É minha obrigação servi-los. É a única obrigação partidária que tenho: servi-los e servi-los bem. Sem condições. Sem preconceitos. Servir até ao tutano dos ossos. Mas isto é coisa que o pretensos moralistas encartados nunca perceberão. É assim a crença de um homem livre e independente. Primeiro Santarém. É o compromisso que assumi com o PSD e levarei até às ultimas consequências, pesem os dardos envenenados e os insultos de ocasião. E o segundo compromisso é para discutir com seriedade. Ou seja, saber se queremos uma prática política clara, transparente, sem suspeições, ou se queremos continuar a nadar neste pântano de denúncias, de processos mal resolvidos, de anátemas contra a honra de qualquer um. Mas sobre isto não falam os pregadores da pureza. Fogem. A cobardia sempre se escondeu por detrás da retórica. De facto é muito grande este partido que consegue albergar o que de melhor existe na sociedade portuguesa e, ainda, parte dos oportunistas que se repartem pelos restantes partidos.

Calo-me. Não falarei mais para este caixote do lixo. Santarém é grande demais para perder mais tempo com esta tempestade de mesquinhez.»


Francisco Moita Flores, Diário de Notícias online, 20-8-2009

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