Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Porque é que todos querem a Joana menos o Bloco?

«Ela foi a notícia que deu cor à silly season. O Bloco colocou-a em segundo plano. O PS, informalmente, através do secretário de Estado Paulo Campos Costa, piscou-lhe o olho. E recuou. Joana merece o risco?


Primeiro, foi mandatária de Mário Soares na campanha presidencial de 2006, desalinhada com o seu partido. Foi notícia. Depois, foi excluída da mesa nacional do Bloco de Esquerda. Voltou a ser notícia. Agora, está no centro da azeda troca de palavras entre José Sócrates e Francisco Louçã, depois de ter sido seduzida politicamente pelo secretário de Estado socialista Paulo Campos. Fez manchetes.
Joana Amaral Dias foi deputada apenas sete meses, de Janeiro a Julho de 2003. Mas o seu valor mediático e político parece estar muito acima disso: "Tem uma grande personalidade e vai ser um grande valor político da esquerda democrática no futuro", vaticina Medeiros Ferreira ao i. Na opinião do histórico socialista, com quem Joana Amaral Dias partilha o blogue "Bicho Carpinteiro", o não da bloquista "incomodou muita gente dentro e fora do PS" porque, diz, "quase ninguém quer personalidades políticas diferentes". Em Coimbra, o não foi bem vindo: "Seria um erro estratégico e não teria qualquer efeito positivo nas listas do PS. Não lhe é conhecida actividade relevante embora tenha mostrado coragem ao aceitar ser mandatária de Mário Soares", diz um dirigente socialista.
"Nula", é a palavra que João Pereira Coutinho escolhe para catalogar a relevância política de Joana Amaral Dias. Na opinião do comentador, "a história do convite" não teria tido qualquer importância em condições normais. E justifica porquê: "As direcções partidárias continuarão a convidar quem quiserem, onde quiserem, como quiserem, naquela lógica que preside às donas de casa quando vão fazer as compras aos supermercado com a lista de conveniências na mão".
Mesmo excluída das listas para deputados e dos órgãos dirigentes do Bloco, Joana Amaral Dias já multiplicou declarações de fidelidade política ao seu campo. De Mário Soares a Paulo Campos, foram já muitas as operações de charme dos socialistas. Joana não cedeu. Porquê? "Quando se vê e ouve a Joana é uma cara e uma voz do BE", diz o deputado bloquista João Semedo, elogiando a "capacidade de análise e de comunicação, cultura política e inteligência" da militante. "Foi, é, e julgo que continuará a ser do Bloco de Esquerda", diz.
"Salvem a Joana", é o título de uma petição que vai sobrevivendo na internet. Objectivo: pedir aos dirigentes do Bloco que mantenham a antiga deputada nas bancadas do parlamento. Não parece ter sensibilizado os destinatários, e João Semedo explica porquê: "Não se mete a carne toda no assador. Há vários militantes e quadros qualificados para assumir os lugares. E o facto de a Joana não ser candidata pelo Bloco não significa que esteja a concurso dos outros partidos. Isso é inaceitável".
Psicóloga bem sucedida, Joana Amaral Dias tirou o curso na Universidade de Coimbra. E como revela ao i, "era uma aluna bastante aplicada, mais do que a maioria". A orientação profissional veio por vocação e por influência familiar: neta e filha de psicólogos e psicanalistas, trabalha hoje no consultório fundado pelo pai, Carlos Amaral Dias. Para além disso, dá aulas no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e faz investigação na área da exclusão social. "É uma pessoa que tem uma uma vida profissional muito agitada, uma capacidade de trabalho e de se dispersar fora do comum", diz fonte próxima da conimbricense de 34 anos. Educada numa família "liberal nos costumes", Joana revela que a política esteve sempre presente "tanto em casa como na vida académica". Um passado que influenciou o seu "envolvimento na intervenção social e uma cidadania activa que vai muito para lá dos partidos".
Foi precisamente pela porta de um partido, o Bloco, que Joana entrou no Parlamento no início de 2003 para substituir Ana Drago. Lá esteve durante sete meses. O suficiente para se fazer notar na oposição à guerra do Iraque e na denuncia do caso dos nitrofuranos que abalou o ministério da Agricultura tutelado por Sevinate Pinto. "Notava-se que a adrenalina disparava quando ela chegava ao Parlamento. Era um furacãozinho", revela a mesma fonte recordando os posters e cachecóis do Futebol Clube do Porto no gabinete da deputada.
Mas foi o discurso que fez no 25 de Abril que mais a marcou no Parlamento: "Uma cerimónia formalista mas que não deixou de ser um momento importante para quem, como eu, já nasceu em democracia". Hoje, Joana tem um sentimento misto quando se fala do passado Parlamento.
Saudades? "Sim e não. Como estreante, foi um período de aprendizagem e de formação política e isso foi muito positivo. Nesse sentido deixa saudades. Mas também acredito que a actividade política está cristalizada e todos poderíamos entrar e sair com maior facilidade na política", assegura. Por isto, São Bento não lhe deixa boas recordações, Mas o espaço para voltar, esse, "não está vazio". »
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Texto e foto in "i" online, 04-8-2009
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Nota:
Bloco e PCP têm muitas coisas em comum, sendo que uma delas é: não querem nas suas fileiras homens e mulheres livres. Joana teve o atrevimento de apoiar Mário Soares nas presidenciais, à revelia do Bloco. Louçã não lhe perdoou a ousadia.

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.