Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quanto mais conheço os animais, mais gosto de algumas pessoas...



As imagens do vídeo, filmado numa reserva em África, falam por si: Christian, um leão com 2 anos, corre ao encontro de dois jovens australianos, reconhecendo e saudando os companheiros, após um ano de separação os rapazes tinham-no comprado e criado em Londres. Para arrepiar ainda mais, ouve-se, em fundo, a voz de Whitney Houston, a cantar I Will Always Love You. É ver e, quase por certo, chorar no YouTube. O vídeo que foi lançado na net em finais de 2007 e visto por mais de 60 milhões de pessoas, em centenas de sites, motivou convites de Hollywood e de programas de TV aos dois amigos. Christian já não é vivo. Mas continua a ser uma celebridade.

As imagens retratam momentos de uma rara e salutar convivência entre um animal selvagem e seres humanos.

Captadas para um documentário, em 1971, no Quénia, um ano após a referida separação, explodiram, de repente, na web, para surpresa dos próprios protagonistas.

"Apenas sabemos que o 'clip' foi inserido no blogue de uma rapariga americana, que o tinha localizado num site japonês", conta à VISÃO John Rendall, um dos dois autores do livro Um Leão Chamado Christian, agora reeditado e actualizado (Editora Presença, 164 págs., €13,60). John Rendall e Anthony Bourke (Ace, de diminutivo), amigos e colegas de faculdade, hoje sexagenários, responderam, com a reedição do livro, já traduzido em mais de 15 países, ao apelo dos fãs.

HISTÓRIA ETERNA
A saga iniciou-se quando os finalistas de Belas-Artes John e Ace, então com 23 anos, deixaram a Austrália, rumo a Londres.

"Era aí que tudo se passava na cena artística, não podíamos perder isso", recorda Rendall. Em pleno auge do movimento hippie, era normal encontrar uma cria de leão à venda, nos armazéns londrinos Harrods. "Estava longe dos nossos planos comprá-lo, mas, ao vê-lo ali, numa jaula tão pequena, não resistimos a fazê-lo", relata John.

Com quatro meses, Christian transferiu-se para um ambiente novo, em que o exercício diário, no jardim, passou a fazer parte da rotina. Em dois dias, apenas, adaptou-se ao apartamento de John e Ace e à loja de mobiliário antigo, no mesmo prédio, onde um dos jovens trabalhava, atraindo as atenções da clientela e dos residentes na zona, ao ponto de criar situações caricatas. Como aquela em que automobilistas batiam nos carros da frente, ao verem o animal a exibir-se, na montra da loja. "Depressa aprendemos que a única forma segura de viver com um leão era pensar sempre à frente", lembra John.

Mas, com sete meses e 65 quilos, a criação de Christian tornou-se complicada de gerir. Até que John e Ace foram apresentados a George Adamson, dono de uma fundação com o seu nome, no Norte do Quénia, que ficou encantado com a possibilidade de reabilitar o leão. Obtida a autorização do Governo queniano, foi o fim da vida urbana para Christian e a despedida, após meses irrepetíveis, recheados de recordações.

A experiência foi decisiva para os dois australianos: John, jornalista e relações públicas, dedica-se a projectos de conservação da vida selvagem, à semelhança de Ace, especialista em arte aborígene, no seu país natal. E Christian? "O facto de não termos sabido mais nada dele", diz Rendall, "foi um sinal de que tudo correu pelo melhor."


Texto e vídeo in Visão online

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.