Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Estado não é o Cabaret da Coxa de Manuela Moura Guedes

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«O Estado não é um noticiário de Moura Guedes


Manuela Moura Guedes tinha problemas antigos na televisão onde deixou de ser locutora de continuidade com um senhor que ia ser secretário de Estado. Mandou um sms ao primeiro-ministro, conhecimento recente, sobre uns boatos a propósito do senhor. E chegou isso para o primeiro-ministro mandar as secretas investigar Bernardo Bairrão. As secretas não chegaram a nenhuma conclusão a não ser a de que os boatos, de facto, existiam. E assim um governante deixou de o ser ainda antes de tomar posse.


Em alguns países, como os EUA, há um escrutínio prévio aos governantes antes de serem nomeados. Tudo na sua vida é passado a pente fino. Não sei se adoro o sistema, que pode dar excessiva relevância ao acessório, deixando para segundo plano a política. Mas tem duas vantagens: evita escândalos mediáticos futuros e é transparente.


O que não é sério é esta forma de fazer as coisas. Se há uma denúncia, ela não se faz em sms para o primeiro-ministro. Isto ainda não é uma sociedade filarmónica. É um País. Se há uma investigação ou ela é absolutamente secreta ou é transparente e com conclusões claras. O que é indecente é fazer-se uma seminvestigação e passar para os jornais semiconclusões, lançando sobre alguém que apenas foi convidado para o governo suspeitas difusas de que não se pode defender.


Assustam, neste episódio, duas coisas. A primeira: a vulnerabilidade de um primeiro-ministro que, por causa de umas bocas despeitadas, vê abaladas as suas convicções em relação à honestidade de alguém que julgou tão sério que até convidou para dirigir as polícias. A segunda: a ligeireza de procedimentos, com investigações rapidinhas, conclusões que não o são e fugas para os jornais com matéria não provada. Andam a brincar com coisas sérias. Que Manuela Moura Guedes o faça, não espanta. Que o primeiro-ministro vá na cantiga é mais grave.


Não conheço Bernardo Bairrão. Não sei se o que dele foi dito e escrito é verdade ou mentira. Mas acho que, nesta matéria, tem razão: as conclusões do relatório que foi feito sobre ele devem ser públicas para ver o seu nome limpo. É que as secretas não podem ser o que foi o telejornal de Moura Guedes. Do Estado, exige-se algum rigor e seriedade.»


Texto de Daniel Oliveira, in Expresso online, 18-7-2011
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