Mário de Sá-Carneiro nasceu a 19 de maio de 1890, no terceiro andar do número 93 da Rua da Conceição, em Lisboa.
Apesar de curta (morreu aos 25 anos), a sua vida foi de tal modo intensa que um dos seus intérpretes, M. Antunes, chegou a descrevê-la como “um dia breve e tempestuoso de inverno”.
Nascido em Lisboa, Mário de Sá-Carneiro foi criado na Quinta da Vitória, em Camarate, mas foi em Paris que passou grande parte da sua curta vida.
À semelhança do seu trisavô (que fez parte da Legião Portuguesa), do seu bisavô (que participou nas lutas liberais e que foi par do Reino) e do seu avô, também o seu pai decidiu seguir a carreira militar, depois de tirar o curso de Engenharia.
A sua mãe, por outro lado, era oriunda de uma família modesta de pequenos funcionários públicos, e era filha de um famoso “criminoso” — José Leopoldo Murinelo.
Águeda Maria morreu quando o poeta era ainda pequeno (tinha apenas dois anos), vítima de febre tifoide. Tinha 23 anos. O filho e o cocheiro da família também contraíram a doença, mas Mário de Sá-Carneiro acabaria por recuperar, como que por milagre.
A trágica morte da mãe de Sá-Carneiro acabaria por se tornar responsável pela criação de muitos dos mitos associados ao poeta.
Sá-Carneiro viu-se desde cedo rodeado apenas de figuras masculinas — o pai, com quem conviveu à distância, e o avô, José Paulino de Sá Carneiro, que vivia em Camarate, na Quinta da Victoria, para onde o poeta foi enviado ainda em pequeno. A única presença feminina na infância de Sá-Carneiro parece ter sido a antiga governanta da quinta de Camarate, Maria Encarnação.
Um dos poemas mais antigos de Sá-Carneiro foi dedicado à Quinta da Victória. “Não veêm que nessa quinta/ Dá uma fruta tão bela?/ Seus caturras duma figa/ Sejam gratos p’ra com ela”, escreveu o poeta, então com 13 anos.
Foi na Quinta da Victoria, na companhia do avô e da ama Maria Encarnação, que Sá-Carneiro começou a escrever as primeiras linhas. Com nove anos, tinha o hábito de criar pequenas peças de teatro, que distribuía pelas criadas e pela cozinheira da mansão. “Costumava representar em cima de um pequeno poço que o pai tinha mandado tapar para ele poder brincar sem perigo”, lembrou muitos anos mais tarde Edith de Sá Carneiro, tia de Sá-Carneiro e filha do segundo casamento do avô.
Sá-Carneiro abandonou Lisboa a 12 de outubro de 1912, a bordo do Sud-Express, o comboio noturno que ligava a capital portuguesa a Paris. Uma vez em França, apressou-se a escrever a Pessoa, inaugurando uma intensa troca de correspondência que duraria até ao dia da sua morte, em abril de 1916.
Mário de Sá-Carneiro suicidou-se às oito da noite de 26 de abril de 1916, no seu quarto do Hotel de Nice, com cinco frascos de estricnina. José Araújo, um amigo de Paris assistiu a tudo. Durante a tarde, o poeta tinha-lhe pedido que se dirigisse ao hotel “às oito em ponto, sem falta”. Quando entrou no quarto, Sá-Carneiro informou-o com toda a naturalidade do mundo de que tinha tomado cinco frascos de veneno. Sem conseguir fazer nada que o pudesse salvar, Araújo acabou por assistir aos últimos minutos de vida do escritor, enquanto este “agonizava, congestionado numa ânsia horrível”, como descreveu mais tarde a Pessoa.
(Fonte: jornal Observador, 25/04/2016)
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