«Seis meses de bombardeamentos da NATO tornaram possível o longo avanço dos rebeldes até Tripoli e à Praça Verde, centro simbólico do regime de Muammar Kadhafi na capital líbia, salientam hoje vários analistas na imprensa francesa.
Entretanto, os combates entre grupos rebeldes e forças leais a Kadhafi estendem-se por vários bairros da capital líbia. Desconhece-se onde se encontra o ditador, cujo palácio está cercado pelos insurgentes.
Num comunicado divulgado hoje, o secretário geral da NATO, Andrs Fogh Rasmussen, afirmou que "o regime de Kadhafi está claramente a desmoronar-se. Quanto mais cedo Kadhafi compreender que não pode ganhar a batalha contra os próprios líbios, melhor".
Ofensiva dos rebeldes vitória da Aliança Atlântica
A entrada dos rebeldes líbios na capital, no domingo, é uma vitória militar da Aliança Atlântica e, a outro nível, uma vitória política do Presidente da República francês, Nicolas Sarkozy, diz a imprensa francesa.
Até sábado, os aviões da NATO e aliados tinham realizado 20 mil missões que incluem cerca de 7 500 ataques contra alvos na Líbia, desde lança-granadas até às bases principais do regime líbio, segundo o diário "New York Times".
Philipe Gros, da Fundação de Investigação Estratégica, em Paris, salientou recentemente no jornal "Le Monde" que, apesar de a Grã-Bretanha e a França assegurarem o essencial do dispositivo militar da NATO na Líbia, "são apenas pesos-médios entre pesos-plumas", dependentes da logística e das munições norte-americanas.
Essa dependência foi nítida nos primeiros meses da campanha da NATO, salientou o especialista.
Peso dos EUA na operação
A primeira fase de intervenção, conhecida pelo nome de "Odyssey Dawn", foi realizada sob comando americano, após três dias iniciais de ataques aéreos da França e da Grã-Bretanha, "com uma coordenação mínima", diz Philipe Gros.
Nessa fase, foram destruídas as defesas antiaéreas líbias e impediu-se as tropas leais a Kadhafi de entrarem na segunda cidade do país, Benghazi, capital da rebelião.
A partir de 22 de março, a aliança ocidental realiza até 180 saídas ofensivas por dia. A 28 de março, num só dia, foram usados 600 bombas de precisão (455 americanas) e 199 mísseis Tomahawk.
A segunda fase, "Unified Protector", foi iniciada a 31 de março, com a passagem do comando das operações para a NATO.
Os alvos foram, a partir de então, os meios de artilharia pesada de Kadhafi, e as saídas da NATO baixaram para cerca de 60 por dia, e depois para 40, segundo Philipe Gros, que referiu dificuldades de coordenação dos comandos Sul da Aliança, em Poggio Renativo (Itália) e Izmir (Turquia).
Além disso, os Estados Unidos colocaram os seus aviões de ataque na reserva, a partir de 04 de abril. No terreno, as forças leais a Kadhafi misturaram-se com a população em várias cidades e o avanço dos rebeldes foi estancado a leste e a oeste do país.
Começou depois, a meio de maio, uma terceira fase, com um duplo alargamento dos meios militares. Por um lado, um alargamento táctico com a utilização de meios suplementares e, por outro, um alargamento estratégico, recobrando a intensidade de bombardeamentos sobre instalações militares, incluindo os centros de comando.
Foi também a partir de final de maio que o apoio ocidental aos rebeldes do Conselho Nacional de Transição se tornou mais óbvio, com o envio de especialistas militares, de instrutores e, até, de forças especiais, que enquadraram o avanço rebelde.
Nas últimas semanas, os EUA intensificaram a campanha aérea na Líbia, recorrendo a aviões não tripulados para vigiar e até bombardear posições militares do regime, segundo o "New York Times".
"Massacre imperialista"
Entretanto, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, denunciou que o imperialismo norte-americano e os seus aliados europeus estão a perpretar "um massacre" na Líbia com o objetivo de se apropriarem das riquezas petrolíferas do país.
"Isso é o que estão a fazer na Líbia: produzir um massacre", com a desculpa de que o fazem "para salvar vidas", disse Chávez num discurso televisivo.
Como já o fez reiteradamente noutras ocasiões, o Presidente venezuelano voltou a acusar os EUA e os seus aliados da Europa de estarem "enlouquecidos" pelos recursos naturais líbios e tentam um novo sistema de intervenção no país, desta vez servindo-se dos protestos populares.»
in Expresso online, 22-8-2011
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