Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 10 de agosto de 2008

Morreu Mahmud Darwich, poeta dos palestinos...

"A obra de Mahmoud Darwich é um exemplo não apenas do conflito entre as diferenças, mas também não nos faz esquecer a impressão geral de fazer de sua poesia uma filha de seu tempo. A poesia de Darwich é um eco do estado de urgência em que se encontra o povo palestino face à interrogação sobre as referências coletivas, sejam elas jurídicas, morais ou culturais. É exemplar enquanto abre espaço para a reflexão sobre a necessidade de compreender a diferença cultural como produção de identidades, para a reflexão de como o escritor imigrante/exilado expressa através de sua obra os “entre-lugares” e de como a sua escrita ultrapassa fronteiras, sejam elas culturais, geográficas, políticas ou sociais. Sua obra leva também à reflexão sobre o mundo contemporâneo e o papel do poeta como intelectual representativo de uma coletividade, a Palestina, no exílio. Colocado neste “entre-lugar”, como mediação entre culturas tão diversas e, ao mesmo tempo, aproximadas pelas trocas que caracterizam o mundo contemporâneo, o escritor faz incidir sobre sua escrita a reflexão tão atual sobre o papel e o lugar da literatura num mundo dividido e contraditório como o nosso, bem como o papel do intelectual, no dizer de Edward Said, como aquele que faz a opção por uma condição de exilado". "


Alexandra Silva Montes


"Mahmud Darwich, considerado por muitos como o poeta dos palestinos, morreu, este sábado, aos 67 anos, num hospital dos EUA. A Autoridade Palestina declarou três dias de luto nacional pela morte deste poeta.

Um dos maiores poetas do mundo árabe, por muitos considerado como o poeta dos palestinos, Mahmud Darwich, morreu, este sábado, aos 67 anos, num hospital de Houston, nos Estados Unidos, devido a problema cardíacos.

Darwich, tornou-se famoso em particular pelo seu poema «Identidade», de 1964, que falava da obrigatoridade do preenchimento de um formulário israelita e que se transformou num hino rpetido por todo o mundo árabe.

Este poeta, que estava em estado crítico na sequência de intervenção cirúrgica, nasceu na Galileia, em 1941, numa altura em que o território, agora parte do Estado de Israel, estava sob administração britânica.

Darwich, que fugiu para o Líbano após a sua aldeia ter sido arrasada na sequência da guerra israelo-árabe em 1948, escolheu o exílio nos anos 70, tendo partido para Moscovo e depois para o Cairo, onde estudou.

Mahmud Darwich aderiu depois à Organização de Libertação da Palestina voltou a ser obrigado ao exílio quando se encontrava em Beirute ao serviço da OLP durante o Verão de 1982.

Em 1993, demitiu-se da OLP em protesto contra os acordos de Oslo, tendo voltado a território israelita pela primeira vez após o seu exílio apenas em Maio de 1996.

Em particular, Darwich criticou a «mentalidade israelita de guetto» e a política israelita que, na sua opinião, impediu a criação de Estado palestino viável.

A Autoridade Palestina anunciou, entretanto, três dias de luta nacional pela morte de Darwich, cuja obra testemunhou os dramas do exílio e ocupação vividos pelo seu povo.

O presidente palestino, Mahmud Abbas, considerou que o poeta «incarnou a vontade palestina de liberdade e independência» e mostrou-se triste pela «perda de estrela que brilhva no firmamento cultural árabe»."
in TSF, 10-8-2008

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.