"Os quatro investigadores da Polícia Judiciária de Setúbal que ontem ouviram durante três horas o antigo presidente da Câmara de Alcochete Miguel Boieiro centraram as questões nas relações deste com José Sócrates, Manuel Pedro e Charles Smith. Ao que o CM apurou, em cima da mesa esteve também um documento no qual, segundo fonte ligada ao processo, "era sugerido aos investidores ingleses a possibilidade de darem algum dinheiro para quatro forças políticas, onde estava incluído o PS, na altura partido do Governo".
Miguel Boieiro, autarca comunista que estava na Câmara quando começou o projecto do outlet, foi questionado sobre eventuais encontros com José Sócrates. O ex--edil garantiu que não existiram, e que todas as reuniões que ocorreram, na sua altura, foram entre técnicos e um secretário de Estado. Porém, assumiu que Manuel Pedro e Charles Smith estiveram com este projecto desde o início e eram seus intermediários. Segundo o antigo presidente de Alcochete, os investigadores perguntaram se foi convidado para ir a Inglaterra ver o projecto. Boieiro disse que sim, mas que a viagem nunca se concretizou. Em declarações ao CM, explicou que o convite lhe foi feito por Manuel Pedro e por Charles Smith antes de o projecto ter sido reprovado.
Ao que o CM apurou, os investigadores também questionaram a possibilidade de o Freeport ter financiado os partidos da terra. 'O que respondi foi que da parte da CDU não sei, porque não era eu que controlava isso, mas tendo em conta as dificuldades financeiras que tive na campanha que duvidava e que pelos outros partidos não podia responder', afirmou.
'MALANDRICE' PARA TRAMAR A CDU NAS ELEIÇÕES
Em declarações aos jornalistas no final do interrogatório na PJ de Setúbal, Miguel Boieiro, que foi sem advogado, disse ter achado estranho ter sido feito um (novo) projecto, alegadamente 'aprovado em tempo recorde, em menos dois meses'.
E afirmou: 'Bom, aí deve ter havido ‘malandrice’'. O ex-autarca diz--se convicto de que o chumbo do projecto inicial poderá ter sido uma decisão de estratégia política para prejudicar a CDU nas eleições autárquicas de 2001, que viria a perder a autarquia para o PS, à época o partido do Governo. Boieiro considerou ainda que o chumbo foi uma 'deslealdade institucional' do Governo para com a autarquia e para os promotores do empreendimento.
TELEMÓVEL DESACTIVADO APÓS DUAS ESCUTAS
O telemóvel em que foi escutada uma conversa que imputava a José Sócrates o recebimento de 500 mil euros foi desactivado ao fim de duas chamadas. Os factos reportam-se a 2005 e os telefonemas – considerados nos autos como de 'relevância para o inquérito' – foram feitos numa altura em que já se investigava a actuação do inspector José Torrão no caso. A chamada que envolve José Sócrates foi de curta duração e feita de um número privado para um dos suspeitos iniciais da investigação.
E-MAIL POR EXPLICAR
A PJ já recebeu toda a informação financeira que pediu a Inglaterra. Ainda falta explicar um e-mail enviado por Sócrates a Manuel Pedro e a Charles Smith em que os trata por tu. Em Janeiro, Charles Smith disse que nunca tinha estado pessoalmente com Sócrates.
OUVIDO SÓ AGORA
Miguel Boieiro garantiu que só agora é que foi chamado pela PJ para falar do caso. O processo começou em 2004 e o antigo presidente da Câmara, que por acaso deu início ao processo, foi chamado a depor 4 anos depois.
SMITH E PEDRO
O antigo autarca foi questionado quanto às suas relações com Manuel Pedro e Charles Smith. Boieiro disse que conhecia Manuel Pedro há muitos anos porque em Alcochete todos se conhecem e que se lembra de que Charles Smith falava um inglês esquisito.
INVESTIGAÇÃO: SUSPEITOS
No decorrer do inquérito ainda deverão ser ouvidos os antigos suspeitos. José Dias Inocêncio, antigo presidente, ainda não foi ouvido. Honorina Silvestre, a assessora, já foi ouvida.
SUBORNOS: CHARLES SMITH
O escocês Charles Smith foi interrogado três vezes e perguntaram-lhe sobre os e-mailsenviados a fazer alusão ao pagamento de ‘luvas’ a José Sócrates.
DINHEIRO: OS CIRCUITOS
A investigação quer saber se o dinheiro, depois de enviado para Portugal e de daqui ter saído para paraísos fiscais de Gibraltar e da Suíça, regressou para outros entrepostos financeiros."
in CM online, última hora, 20-3-2009
O Segredo de Justiça em Portugal:
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