«O revolucionário e militante de base do Partido Socialista Hermínio da Palma Inácio, celebrizado pelo primeiro desvio político de um avião e pelo assalto ao Banco de Portugal, morreu ontem, terça-feira, em Lisboa, vítima de cancro.
"A sua vida dava um romance. Tudo o que fez foi para que houvesse em Portugal um regime democrático", na síntese de Manuel Alegre, reagindo à morte, aos 87 anos, de Palma Inácio, cujo corpo se encontra na sede nacional do partido, no Largo do Rato, em Lisboa. O funeral realiza-se hoje, às 17.45, para o cemitério do Alto de S. João, onde será cremado às 20 horas.
Hermínio da Palma Carlos nasceu em 1922 em Ferragudo, Lagoa, tendo passado a juventude em Tunes, concelho de Silves. Gerado numa família de ferroviários, alistou-se voluntariamente na Aeronáutica Militar aos 18 anos, fazendo os cursos de mecânico de aeronaves e de piloto civil.
A sua primeira acção rebelde data da II Grande Guerra, quando largou de avião alimentos sobre povoações algarvias atormentadas pelo racionamento. Em 1947, participa na tentativa de golpe de Estado de 10 de Abril com a missão de sabotar aviões na base aérea de Sintra. Detido após sete meses de clandestinidade, é torturado e preso no Aljude, de onde foge em 16 de Maio de 1948. Consegue chegar a Marrocos, segue para os Estados Unidos e o Brasil e integra grupos conspirativos.
A 10 de Novembro, com Camilo Mortágua, Amândio Silva, Maria Helena Vidal e Francisco Vasconcelos, desvia um avião da TAP que descolara de Casablanca e, sobrevoando a região de Lisboa, lança 100 mil panfletos contra a ditadura, regressando a Marrocos.
Seis anos depois, em Maio, é um dos protagonistas do assalto à delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz, reivindicado pela Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR), apoderando-se de 30 mil contos. Foge para Paris, onde planeia a tomada da Covilhã, mas é capturado pela PIDE. Encarcerado no Porto, consegue fugir. Reentrando clandestinamente em Portugal em 1973, para um novo golpe, é detido novamente.
Estava preso em Caxias quando aconteceu o 25 de Abril. Militante do PS após a Revolução, "nem por um momento pensou tirar vantagem do seu passado revolucionário, aceitando cargos ou outras vantagens", disse o presidente do partido, Almeida Santos. "Viveu o pós-25 de Abril em exemplar modéstia e em autopromovido apagamento. Recusou entrar no jogo das ambições, bastando-lhe sempre a compensação de ver triunfar os valores pelos quais tinha lutado". »
Texto in JN online, 15-7-2009
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