Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Casamento gay aprovado, adeus Sr. deputado

«Parece que agora os senhores deputados têm missões especiais dentro do parlamento. Assim que cumpridas dizem adeus ao hemiciclo. Aquela coisa de representar os eleitores já deu o que tinha a dar.




"O deputado independente eleito pelo PS Miguel Vale de Almeida anunciou hoje a renúncia ao mandato, considerando que a "tarefa" para a qual foi eleito está "cumprida", com a consagração legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo." in Parlamento Global

"Tarefa para a qual foi eleito"? Desconhecia que agora os senhores deputados eram eleitos para "tarefas". São deputados tarefeiros? Miguel Vale de Almeida estará mesmo convencido que alguém o elegeu para que gays e lésbicas deste país pudessem casar?

Eu consigo perceber que um deputado chegue à conclusão que não foi feito para o cargo e renuncie. Também entendo que o deputado Miguel Vale de Almeida quisesse como cidadão e deputado ver o casamento entre pessoas do mesmo sexo consagrado. E com o seu trabalho viu essa igualdade conquistada. E bem.

Agora já me faz alguma confusão vê-lo justificar a sua saída antecipada do parlamento com o facto de ter "cumprido a tarefa". Isto porque ao contrário do que Miguel Vale de Almeida pensa um deputado neste país ainda não é eleito para cumprir esta ou aquela tarefa. Não se senta num parlamento com esta ou aquela missão específica. Seja ela ver o casamento gay consagrado ou conseguir que a cantina da AR esteja aberta à hora do jantar como o colega do senhor deputado desejava há uns tempos.

A missão de um deputado, ou "tarefa" se o ex-deputado Miguel Vale de Almeida assim lhe quiser chamar, é toda igual: alguém eleito pelo povo para o representar no Parlamento e a quem o povo confia as decisões sobre variados assuntos. São por isso tarefas e não tarefa, assuntos e não assunto. Tantos quantos os que preocupam e afectam os cidadãos que o elegeram. Sejam eles gays, lésbicas ou heterossexuais.

Miguel Vale de Almeida conseguiu desta forma esvaziar completamente o cargo de um deputado neste país. Um deputado passa a ser um tarefeiro. Um homem-lobby. Ninguém o elegeu para tratar de um assunto específico. Ninguém meteu o voto na urna a pensar que queria ver sentado na AR o deputado Miguel dos casamentos gay. Com esta atitude e esfarrapada desculpa, o deputado tratou de forma diferente as diferentes pessoas que o elegeram.

Desrespeitou o cargo que ocupava como todos os que o lá sentaram e ainda os colegas que lá permanecem sentados. Devia lembrar-se que não foi apenas eleito para resolver assuntos dos gays e lésbicas deste país e sim os de milhares de cidadãos. Cidadãos que estou certo que gostariam de ver os seus problemas (aquela coisa de igualdade que dá tanto jeito para aprovar coisas) tratados com a mesma dignidade, seriedade e espírito de missão e "tarefeiro".

Não é muito coerente andar por aí a apregoar a igualdade, e depois tratar de forma desigual os eleitores. Conforme o assunto, missão ou "tarefa".»


in Expresso online, 20-12-2010


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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.