Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Rosa Lobato de Faria - "Se eu morrer amanhã"



 

"Se eu morrer amanhã"

Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes. Eu não me entristeço.
Ter tido a morte é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu
O único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar
Foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não venho,
E do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
Pois não estar é da morte quanto sei...

Rosa Lobato de Faria
In "Poemas Escolhidos e Dispersos"

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.