Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 21 de março de 2010

Côro dos empregados da câmara...


É tão vazia a nossa vida, é tão inútil a nossa vida
que a gente veste de escuro como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu...
... O Sol andando lá fora, fazendo lume nos vidros,
chegando carros ao largo com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)
e a gente praqui fechados na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias fazendo letra bonita.
Fazendo letra bonita e o vento andando lá fora
rumorejando nas árvores, levando nuvens pelo céu,
trazendo um grito da rua (quem seria que gritou?)
e a gente praqui fechados na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias fazendo letra bonita,
enchendo impressos, impressos, livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos, bocejando, bocejando, bocejando.
Manuel da Fonseca

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.