Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Teóloga católica inglesa Myra Poole: Bispos e Papa "deviam ir para a prisão"...




Não basta reconhecer "o erro" nos casos de pedofilia que têm assolado a Igreja Católica, nem condenar quem os cometeu. Bispos e Papa "deviam ir para a prisão" por eles, defende a teóloga feminista Myra Poole.

Em entrevista à agência Lusa, por ocasião de uma conferência em Lisboa, para a qual foi convidada pelo grupo português do movimento internacional Nós Somos Igreja, a católica inglesa da congregação de irmãs Notre Dame de Namur, fundada em França e que se tem dedicado à educação das jovens, repetiu várias vezes a palavra "consternada" para descrever o seu sentimento em relação aos abusos sexuais de menores cometidos por padres em vários países.

"É terrível o que estes homens fizeram, mas a responsabilidade é dos bispos e do Papa", que "deviam ir para a prisão com eles", porque este tipo de abusos resulta de "uma cultura aceite pela Igreja", diz Myra Poole, classificando como "disparate" as tentativas de relacionar o celibato com a pedofilia: "Não é o celibato, é a cultura do catolicismo e a ausência de mulheres [nos cargos eclesiásticos]".

A teóloga que defende a ordenação de mulheres vai mais longe e pede a resignação de Bento XVI: "Acredito - e vou ser muito radical agora - que o Papa devia resignar. Não tenho qualquer dúvida." E, correndo o risco de ser "linchada", promete que vai defender isso mesmo nas ruas quando o Papa visitar Inglaterra.

"Reconheceram o erro, ok. Mas a desculpa do Papa é um pouco tardia. Como cardeal Ratzinger, sabia o que se passava. E se não soubesse, não estava a fazer o seu trabalho. Não há desculpa. Não são líderes capazes, não deviam estar nestes papéis", afirma, exigindo uma reacção mais vigorosa aos escândalos de pedofilia por parte da hierarquia.

A teóloga não defende porém a expulsão dos padres que praticaram abusos: "Sinto muita pena destes homens, estavam sob a orientação de uma liderança. Por que é que a liderança não alertou para a gravidade do que eles estavam a fazer? Não os culpo só a eles. Isso é o que a liderança da Igreja está a fazer, culpando estes pobres homens. Não o deviam ter feito, mas a velha cultura masculina do catolicismo permitiu que continuassem a fazê-lo. A responsabilidade primária é da liderança."

"A grande tragédia" é que os altos responsáveis "não serão responsabilizados", antecipa. E os padres continuarão a ser "mudados para outras paróquias para continuar com as suas coisas". "É uma situação muito grave. Se estes homens estivessem na esfera pública seriam obrigados a demitir-se. Se o primeiro ministro [britânico] Gordon Brown fosse responsável por uma coisa destas teria de sair. Todos os bispos devem sair e o actual Papa tem de sair."

Defendendo que é preciso haver "uma rebelião na Igreja", Myra Poole diz que toda a comunidade católica deve "ter algo a dizer sobre a próxima forma de Papado" e sustenta que "o problema é que não há democracia na Igreja".

Os escândalos de pedofilia são "um sinal de que precisamos de mudanças profundas, de uma revolução suave, no Papado e na hierarquia em Roma. São muito, muito, corruptos, e são-no há dois mil anos sem qualquer avaliação externa do que fazem. Precisamos de uma autoridade secular dentro da Cúria para ver o que se está a passar", vinca.
in JN online, 29-3-2010

Sem comentários:

Contador, desde 2008:

Localizador, desde 2010:

Acerca de mim

A minha foto
"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.