Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Forças Populares 25 de Abril, 30 anos depois...

Trinta anos depois da aparatosa operação de lançamento de petardos, que assinalou a criação das Forças Populares 25 de Abril, as personagens da história guardam memórias, mágoas, feridas e pouco arrependimento.




A 20 de Abril de 1980, milhares de petardos rebentavam por todo o país, apresentando aos portugueses o "Manifesto ao Povo Trabalhador", em que as Forças Populares 25 de Abril (FP-25) se anunciavam prontas para "o derrube do regime, a instauração da ditadura do proletariado, a criação do Exército Popular e a implantação do socialismo".

As mãos das armas dizem hoje que "eram parte de um grupo antifascista e revolucionário", que iam "travar o avanço iminente de um golpe da direita fascista e honrar a Revolução de Abril".

As famílias das vítimas e os que os condenaram continuam a chamar-lhes terroristas e a considerar inadmissível o desfecho do processo.

Para o sociólogo político Manuel Villaverde Cabral, o surgimento deste grupo é "um fenómeno absolutamente micro", que pode, em última análise, relacionar-se com a chegada da direita ao poder, na forma da Aliança Democrática, vista da esquerda radical".

Mas, acrescenta, "não é mais do que um fenómeno histórico expetável, uma agonia": "É todo o hiper radicalismo que a revolução portuguesa atingiu", considerou.

Luís Gobern Lopes, um dos fundadores das FP 25 e o primeiro a assumir-se em julgamento como membro da organização, afirmou, em entrevista à Lusa, que "no contexto em que surgiram, as FP-25 tinham um propósito forte", acrescentando que, embora não se sinta arrependido, reconhece que houve momentos em que a organização perdeu o pé.

"Situando-me na altura em que as coisas ocorreram, considerando a forma como eu pensava, como eu sentia, como eu via as coisas, não posso dizer que me arrependa de nada. Não tenho de que me arrepender. Todas as coisas foram feitas com uma atitude consciente. Talvez o trajecto que depois levaram é que se desvirtuou", disse.

"O Anarquinho", como era conhecido, foi acusado de mais de 100 crimes e condenado a 20 anos de cadeia. Entre fugas, indultos e amnistias, acabou por estar preso apenas cinco anos.

Entre 1980 e 1987, as FP 25 foram responsáveis por 17 assassinatos, 66 atentados à bomba e 99 assaltos a bancos.

Em 1996, os operacionais presos beneficiaram de uma amnistia aprovada pela Assembleia da República e promulgada por Mário Soares, então Presidente da República.

Os tumultos que se sentiram no mega processo que julgou as ações de mais de 60 homens e mulheres acusados de pertencerem às FP-25 sentem-se ainda hoje nas vozes dos que estiveram envolvidos no processo, de ambos os lados da barricada.

Martinho de Almeida Cruz foi a mão que mandou prender muitos dos homens que o poder político depois libertou, voz forte contra a amnistia: "A amnistia tem como consequência o apagamento puro e simples dos crimes cometidos. É como se as pessoas que cometeram esses crimes não tivessem cometido absolutamente nada", defende.

"Numa criminalidade absolutamente grave como esta, não aceitei nem nunca aceitarei tal ideia. Defenderia, quanto muito, um perdão de parte das penas. Porque perdoar é uma coisa, esquecer é outra", acrescentou.

Gaspar Castelo-Branco, director dos Serviços Prisionais, foi morto a tiro pelas FP 25 à porta de sua casa, a 15 de Fevereiro de 1986.

Para o filho, Manuel Castelo-Branco, este foi o primeiro grande sinal de terror da organização e um argumento que prova o falhanço de Abril na Justiça: "O esquecimento das vítimas, no caso do meu pai, começou no dia em que ele foi morto", disse, em entrevista à Lusa.

"O país foi muito mais do que benevolente. As FP-25 Nunca se arrependeram, nunca vieram dizer que o que fizeram estava errado, nunca, em algum momento, vieram pedir desculpa, ou retratar-se dos crimes que cometeram", argumentou.

Manuel Castelo-Branco considera que o resultado do processo que envolveu este grupo armado e "o desrespeito pelas famílias das vítimas" foram argumentos fortes para mostrar que "a Justiça foi talvez o maior falhanço deste país no pós 25 de Abril".





Texto Lusa, 20-4-2010
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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.