I. O apoio do PS a Manuel Alegre chega tarde e a más horas. Durante quase meio ano, Alegre andou no terreno à espera do apoio do Largo do Rato, que só chegou ontem. Esta longa espera revelou uma coisa: Alegre não desperta entusiasmo, e só consegue o apoio de meio partido. Os soaristas não vão deixar de proteger o ego, perdão, a consciência de Mário Soares. Na hora da verdade, muitos socialistas não irão votar. Mais: muitos socialistas enganar-se-ão no quadradinho.
II. Para Alegre, o apoio veio mesmo na pior altura. A popularidade de José Sócrates está pelas ruas da amargura, e o PS está a cair nas sondagens. Até podemos dizer que Alegre estava num beco sem saída: por um lado, precisava do apoio oficial de Sócrates e do PS, mas, por outro lado, esse apoio seria sempre prejudicial eleitoralmente, devido à impopularidade crescente do primeiro-ministro. Antes de começar, o candidato-Alegre já estava morto politicamente.
III. E, agora, Alegre tem de enfrentar outro grande beco sem saída: o bardo precisa do apoio do PS, logo, não pode ser muito crítico em relação à política económica do PS, que é vista - pelo eleitorado - como a principal culpada da crise. Ou seja, se fizer um discurso anti-sistema, Alegre encostar-se-á ao BE, e isso afastará os socialistas. Se fizer um discurso responsável e de apoio ao governo, Alegre anulará a sua própria imagem de 'contestatário' de barba branca. A candidatura de Alegre a Belém é um nado-morto.
Texto de Henrique Raposo, in Expresso online, 31-5-2010
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