Aos casos já existentes de pobreza, somam-se novas vítimas da crise e cada vez mais as famílias pedem alimentos para cozinhar em casa. O Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados não cobre todo o ano e, durante um trimestre, a população necessitada fica “a descoberto”, destaca Ana Martins, directora do Departamento de Acção Social da AMI. Além disso, os excedentes da Europa, distribuídos através da Segurança Social e mediante regras rigorosas, não chegam para resolver as carências alimentares.
São enviados cereais, arroz, leite, queijos, manteiga, farinha e açúcar. Mas ?isto é um complemento, não é uma solução alimentar?, destaca Ana Martins, lamentando, por exemplo, que fiquem de fora bens como azeite e carne.
Por outro lado, os alimentos que chegam da sociedade civil, ou que recolhem nos hipermercados e escolas escasseiam, testemunha quem está nos Centros Porta Amiga. A ajuda é necessária para lanches e outros suplementos.
“Nunca temos latas de conserva e fazem imensa falta”, exemplificou Ana Martins, lembrando que os sem-abrigo não têm onde cozinhar. Esta população procura os abrigos nocturnos e os refeitórios da AMI, onde quem tem rendimentos paga 1,35 euros por cada refeição confeccionada por uma empresa de catering.
No ano passado, cerca de 9370 pessoas recorreram à AMI, a nível nacional. Um acréscimo de 18% face às 7702 de 2008. Também cresce o número de novos casos. Foram 4363 no ano passado. Acompanhando a tendência, aumenta o número de famílias que a AMI apoia com o programa comunitário. Em 2009, foram 1946 famílias e 5600 pessoas. A quantidade de alimentos distribuída duplicou. Quanto ao perfil dos mais de 9 mil utentes, 79% estão desempregados, 26% da população activa recebem o Rendimento Social de Inserção e 28% têm outros subsídios e apoios institucionais.
Também na Legião da Boa Vontade (LBV) desde 2008 que os pedidos de ajuda têm vindo a crescer, quer na distribuição mensal de alimentos quer nas rondas nocturnas que são feitas em Lisboa e no Porto. “Há muitas pessoas que por vezes só conseguem pagar um quarto e não têm como se alimentar. De madrugada, vêm à procura das equipas de rua para comer”, contou Elsa Pereira, da LBV. Para poder responder ao acréscimo da procura – os cabazes mensais só dão para cerca de 100 famílias – a LBV adoptou um regime de rotatividade e, durante o mês, assegura distribuições pontuais a quem precisa. Porque as doações das empresas também baixaram, este ano os voluntários também têm estado a fazer mais campanhas de recolha.
À Cruz Vermelha também chegam cada vez mais pedidos de ajuda, sobretudo de pessoas que ficaram desempregadas e que não podem fazer face aos compromissos financeiros que tinham assumido com a compra da casa e dos créditos pessoais. No último ano, no âmbito da campanha ?País solidário?, a Cruz Vermelha gastou cerca de 500 mil euros a ajudar a pagar as contas de cerca de 850 pessoas. Na maioria, prestações da casa, água, luz e gás que deixaram ficar em atraso.
Texto in JN online, 17-6-2010
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