Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AMI sem alimentos para responder aos pedidos...

A Assistência Médica Internacional (AMI) não tem alimentos suficientes para responder às necessidades. São cada vez mais as famílias a pedir ajuda às organizações, mas os excedentes do programa comunitário e a ajuda da sociedade civil não chegam.


Aos casos já existentes de pobreza, somam-se novas vítimas da crise e cada vez mais as famílias pedem alimentos para cozinhar em casa. O Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados não cobre todo o ano e, durante um trimestre, a população necessitada fica “a descoberto”, destaca Ana Martins, directora do Departamento de Acção Social da AMI. Além disso, os excedentes da Europa, distribuídos através da Segurança Social e mediante regras rigorosas, não chegam para resolver as carências alimentares.

São enviados cereais, arroz, leite, queijos, manteiga, farinha e açúcar. Mas ?isto é um complemento, não é uma solução alimentar?, destaca Ana Martins, lamentando, por exemplo, que fiquem de fora bens como azeite e carne.
Por outro lado, os alimentos que chegam da sociedade civil, ou que recolhem nos hipermercados e escolas escasseiam, testemunha quem está nos Centros Porta Amiga. A ajuda é necessária para lanches e outros suplementos.

“Nunca temos latas de conserva e fazem imensa falta”, exemplificou Ana Martins, lembrando que os sem-abrigo não têm onde cozinhar. Esta população procura os abrigos nocturnos e os refeitórios da AMI, onde quem tem rendimentos paga 1,35 euros por cada refeição confeccionada por uma empresa de catering.

No ano passado, cerca de 9370 pessoas recorreram à AMI, a nível nacional. Um acréscimo de 18% face às 7702 de 2008. Também cresce o número de novos casos. Foram 4363 no ano passado. Acompanhando a tendência, aumenta o número de famílias que a AMI apoia com o programa comunitário. Em 2009, foram 1946 famílias e 5600 pessoas. A quantidade de alimentos distribuída duplicou. Quanto ao perfil dos mais de 9 mil utentes, 79% estão desempregados, 26% da população activa recebem o Rendimento Social de Inserção e 28% têm outros subsídios e apoios institucionais.

Também na Legião da Boa Vontade (LBV) desde 2008 que os pedidos de ajuda têm vindo a crescer, quer na distribuição mensal de alimentos quer nas rondas nocturnas que são feitas em Lisboa e no Porto. “Há muitas pessoas que por vezes só conseguem pagar um quarto e não têm como se alimentar. De madrugada, vêm à procura das equipas de rua para comer”, contou Elsa Pereira, da LBV. Para poder responder ao acréscimo da procura – os cabazes mensais só dão para cerca de 100 famílias – a LBV adoptou um regime de rotatividade e, durante o mês, assegura distribuições pontuais a quem precisa. Porque as doações das empresas também baixaram, este ano os voluntários também têm estado a fazer mais campanhas de recolha.

À Cruz Vermelha também chegam cada vez mais pedidos de ajuda, sobretudo de pessoas que ficaram desempregadas e que não podem fazer face aos compromissos financeiros que tinham assumido com a compra da casa e dos créditos pessoais. No último ano, no âmbito da campanha ?País solidário?, a Cruz Vermelha gastou cerca de 500 mil euros a ajudar a pagar as contas de cerca de 850 pessoas. Na maioria, prestações da casa, água, luz e gás que deixaram ficar em atraso.

Texto in JN online, 17-6-2010

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.