Ricardo Rodrigues, o moralista
O deputado socialista Ricardo Rodrigues acusou ontem o deputado bloquista João Semedo de ter "imaginação fértil" quando acusa o primeiro-ministro, José Sócrates - num relatório de onde sairão as conclusões da Comissão de Inquérito ao negócio PT/TVI -, de ter omitido, errado, faltado à verdade, mentido ou cometido outro pecado equivalente na Assembleia da República ao jurar desconhecer a intenção da Portugal Telecom em comprar a empresa proprietária da estação televisiva.
Nada tem de surpreendente a alegação do deputado socialista como, aliás, nada têm de surpreendentes as conclusões do deputado bloquista: não se esperaria outra coisa de quem está no partido do Governo - apoio incondicional ao primeiro-ministro, mesmo se este não tiver razão - nem de quem está na oposição - prosseguir na estratégia de fragilização do líder do Executivo, mesmo se ele até tiver razão.
O que é surpreendente é ser este deputado socialista, este Ricardo Rodrigues, o homem que está a tentar dar lições de moral aos deputados da oposição. Para quem esteja distraído, recordo que este é o mesmo Ricardo Rodrigues que desviou, furtou, roubou ou cometeu outro pecado equivalente quando, a meio de uma entrevista, meteu ao bolso dois gravadores de uns jornalistas e saiu, furioso com as perguntas que lhe estavam a fazer. A cena já se passou há bastante tempo, os gravadores ainda não foram devolvidos aos donos e a justiça prossegue, serena e lenta, o seu burocrático caminho, direito (o Direito do costume, aliás) à queda, pela podridão, do assunto.
No entretanto, o deputado que apareceu nas televisões de todos os portugueses a levar na algibeira algo que não lhe pertencia até é defendido pela direcção parlamentar do seu partido e não vê este óbvio comportamento reprovável ser apreciado pelos seus pares. Já só isto bastaria para incomodar qualquer cidadão de bom senso. Mas há mais: Ricardo Rodrigues continua a ser vice-presidente da bancada socialista e é o principal representante do PS na comissão de inquérito que aprecia os comportamentos éticos e, até, criminais das pessoas envolvidas no negócio abortado da PT/TVI. E já nem vou falar no ridículo que é estar esta alma na Comissão Eventual para o acompanhamento do fenómeno da corrupção! Que autoridade pode ter para este trabalho, neste momento, um deputado assim?!
Quando José Sócrates vê nos noticiários televisivos Ricardo Rodrigues a defendê-lo, não achará que, com amigos daqueles, não precisa de inimigos? Ou, simplesmente, já se está nas tintas para tudo?
Texto de Pedro Tadeu, in DN online, 15-6-2010
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