O Presidente venezuelano ganhou o referendo de domingo que lhe permitirá recandidatar-se automaticamente e sempre a partir de 2012. Assim que o resultado começou a tomar forma definitiva, uma maré humana de vermelho invadiu as ruas de Caracas e outras cidades.
Contados 94,2 por cento dos votos, o “sim” soma 54,36 por cento e o não apenas 45,63. O resultado provisório foi anunciado pelo responsável da Comissão Nacional de Eleições, Tibisay Lucena.
“É uma nítida vitória do povo e da revolução”, declarou Chávez. “A verdade triunfou sobre a falsidade, a dignidade da pátria ganhou aos que a negam, a constância venceu”, acrescentou, triunfal.
Mal os números foram conhecidos, milhares de partidários do Presidente que tem como programa a “refundação” da Venezuela saíram às ruas, na capital e outras cidades, para festejar a vitória, extensiva aos principais aliados. As emendas constitucionais aprovadas permitirão a reeleição também de vários aliados tácticos – governadores, presidentes de câmara e vereadores.
“As portas do futuro estão bem abertas”, lançou o Presidente aos seus apoiantes. “Em 2012 haverá eleições presidenciais, e a não ser que Deus decida de outra maneira, a não ser que o povo decida de outra maneira, este soldado já é candidato”. De acordo com as regras existentes, o Presidente estava limitado a dois mandatos de seis anos. Agora, a população deu a luz verde para uma mudança constitucional que acaba com esse limite.
A AFP descreve o momento do anúncio dos resultados oficiais como uma explosão de alegria e uma chuva de fogo-de-artifício. “Chávez estará no poder até o povo o desejar, porque aqui o povo é quem manda. Não há lugar para a ignorância. Os bons governantes têm a aprovação do povo, e quando são maus, serão punidos”, resumiu à agência francesa José Rodríguez, estudante universitário, e um dos que se vestiram de encarnado (a cor dos chavistas) para apoiar o Presidente.
Foi espontaneamente que centenas de pessoas convergiram para o palácio Miraflores e milhares enchiam as ruas da capital. Diazmelis Benítez, trabalhadora numa clínica do bairro popular Catia, explicava o porquê da festa: “Chávez é um Presidente que ama o seu povo e lutou por ele. É verdade, rodeou-se de pessoas más, mas ele deseja o melhor para nós”.
Uma grande parte da popularidade do Presidente vem do investimento na educação, saúde e apoio à alimentação nos bairros mais desfavorecidos de Caracas e outras zonas mais remotas do país. Há dez anos que governa a Venezuela, agora recebeu luz verde dos eleitores para prolongar a sua permanência no poder.
Chávez prometeu usar esta vitória no combate ao crime - são 13 mil os homicídios por ano - e à corrupção, e para consolidar o socialismo. A sua popularidade tem sido paga com os lucros da venda de petróleo, que têm vindo a decair abruptamente devido à recessão global. Por isso, o Presidente teve que avisar que novas medidas terão de ficar adiadas até ao próximo ano.
Os observadores internacionais afirmaram que a votação foi transparente e justa, e os opositores não pretendem contestar os resultados. O que não significa que todos tenham considerado o processo acime de toda a suspeita. O líder da oposição Leopold Lopez afirmara à BBC que a campanha foi tendenciosa: “Em dez anos tivemos 15 eleições, 15. E esta foi a mais desigual, a mais abusiva de todas... Por isso é que vimos mais propaganda para votar sim”.
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in Público online, 16-02-2009
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