A verba, que daria para viver faustosamente, está bloqueada numa conta comum, por ordem do Tribunal de Lisboa, depois de os namorados, ambos na casa dos 22 anos, terem terminado a relação, movidos por desentendimentos quanto à propriedade legítima do dinheiro.
As partes envolvidas não quiseram falar ao JN, mas as conversas nos cafés e em toda a vizinhança revelaram os segredos que as duas famílias, a custo, tentaram manter. As bolas sorteadas saíram no dia 19 de Janeiro de 2007, através de um boletim preenchido no Café Brandão, em Alvelos, mesmo a meio do percurso que separa as casas dele, em Courel, e dela, em Remelhe.
Quem o registou? Conhecidos da rapariga dizem que foi ela, amigos do rapaz dizem que foi ele. Sabe-se, no entanto, que era uma prática semanal do casal, antes do arrufo. "O dinheiro é como o diabo que se mete no corpo. Se não fosse o Euromilhões, já estavam casados", conta um vizinho. Muita coisa mudou desde o dia em que o prémio foi festejado. "Ele perdeu o namoro, foi ela que terminou, mas ela também não ficou melhor, porque vive com medo. A mãe até andou receosa que a raptassem", assegura uma vizinha.
No Café Brandão, que se vangloria de ter dado o prémio dado através de um cartaz colorido, nem sequer se conhecem os intervenientes desta história rocambolesca. "Só soube que o recibo premiado tinha sido registado cá, pela listagem da Santa Casa. Eles foram directamente buscar o prémio a Lisboa", conta o proprietário. À capital, foi uma comitiva composta pelo rapaz, a namorada e os pais desta, que assinaram, logo depois, uma conta com quatro titulares, de onde só terão gozado o primeiro ano de juros.
Há quem diga que os pais não deviam ter-se metido ao barulho. Quer numa como noutra freguesia, as duas famílias quiseram, por precaução, esconder o facto de serem euromilionários, mesmo quando os rumores aumentavam de consistência. Conta-se que foi quando o jovem de Courel demonstrou ter intenção de dar algum dinheiro aos irmãos e ao pai, mais por partilha do que por necessidade, que a família dela se opôs.
Terminou-se o namoro e no epicentro da discussão passou a estar: afinal de quem é o dinheiro? De quem registou o boletim, de quem o encomendou ou de quem escolheu os números? "O miúdo teve de pôr uma providência cautelar porque a outra parte quer o dinheiro todo e não metade", contam. A conta está, desde então, bloqueada, à espera que o processo, que pode vir a transitar para o Tribunal de Barcelos, chegue ao término.
"Isto é um pandemónio. Agora, sem nome, o prémio é de quem levar o recibo. Antes, o Totoloto levava o nome, hoje em dia é tudo à balda", insiste um habitante de Courel.
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in JN online, 11-02-2009
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