«O país assiste à telenovela do Orçamento. E, no meio do drama, existe uma estranha mudez: a mudez do candidato Alegre.
Verdade que Alegre já soltou uns versos sobre o dito cujo, esperando que o ‘Estado social’ não seja ‘descaracterizado’.
Mas tirando esta proclamação vácua, que o Orçamento ainda por cima destrói, o candidato presidencial da Esquerda não tem uma palavra reconhecida e reconhecível sobre um documento central do nosso futuro colectivo. Isto percebe-se? Obviamente, percebe-se: se tivesse conservado a sua ‘independência’ e uma higiénica distância do PS socrático, Alegre poderia emergir nestes tempos sombrios como o salvador ideal de um país desesperado e analfabeto. Só que a ambição foi maior do que Alegre, que se entregou às sereias para ser enxovalhado e castrado por elas.
O Alegre que hoje existe é um morto-vivo: ele fala, ele mexe-se, ele voga por aí – mas ninguém o ouve, ninguém o vê, ninguém conta com ele para nada. Dividido entre as mentiras do PS e as loucuras do Bloco, Alegre é a primeira vítima de um Orçamento que promete fazer várias.
Texto de João Pereira Coutinho, Colunista, CM online, 22-10-2010
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