Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Morto-vivo

«O país assiste à telenovela do Orçamento. E, no meio do drama, existe uma estranha mudez: a mudez do candidato Alegre.


Verdade que Alegre já soltou uns versos sobre o dito cujo, esperando que o ‘Estado social’ não seja ‘descaracterizado’.

Mas tirando esta proclamação vácua, que o Orçamento ainda por cima destrói, o candidato presidencial da Esquerda não tem uma palavra reconhecida e reconhecível sobre um documento central do nosso futuro colectivo. Isto percebe-se? Obviamente, percebe-se: se tivesse conservado a sua ‘independência’ e uma higiénica distância do PS socrático, Alegre poderia emergir nestes tempos sombrios como o salvador ideal de um país desesperado e analfabeto. Só que a ambição foi maior do que Alegre, que se entregou às sereias para ser enxovalhado e castrado por elas.

O Alegre que hoje existe é um morto-vivo: ele fala, ele mexe-se, ele voga por aí – mas ninguém o ouve, ninguém o vê, ninguém conta com ele para nada. Dividido entre as mentiras do PS e as loucuras do Bloco, Alegre é a primeira vítima de um Orçamento que promete fazer várias.

Texto de João Pereira Coutinho, Colunista, CM online, 22-10-2010

 


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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.