Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O vergonhoso e patético comunicado do PCP...

«O PCP consegue sempre surpreender pela negativa nas suas tomadas de posição. Agora caíram no ridículo ao criticarem a atribuição do Nobel da Paz a Liu Xiaobo. É o PCP, what else?

Há coisas que não têm explicação. Uma delas é o PCP ainda existir. Outra são as tomadas de posição que provavelmente fariam sentido em regimes democráticos, pluralistas e com forte sentido humanitário como a República Popular da China ou a República "Democrática" da Coreia do Norte. Mas sobre a falta de liberdade em que vivem estes povos não vejo comunicados deste partido. Encolhem os ombros ou assobiam para o ar cada vez que se aborda o assunto.

Num curto comunicado o Partido Comunista considera que a decisão de distinguir Liu Xiaobo é "inseparável das pressões económicas e políticas dos EUA à República Popular da China". "É, na linha da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2009 ao Presidente dos EUA, Barack Obama, mais um golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre povos", refere ainda o PCP.

Valores da paz, da solidariedade e amizade entre povos? Estão a falar de quem e do quê? Do Governo chinês? É impressão minha ou a pessoa a quem foi atribuído o Nobel está há dois anos preso (pela terceira vez) por defender aquilo em que acredita, sem nunca ter recorrido à violência ou cometido qualquer acto considerado ilegal - num país tolerante ao livre pensamento pelo menos - ah esperem esqueci-me que este desgraçado vive na China.

O Governo chinês, esse último e maravilhoso bastião da liberdade comunista adora afirmar e fazer prevalecer "os valores da paz, solidariedade e amizade" enviando para a cadeia quem não pensa pela cabeça do regime. Uns verdadeiros amantes da democracia. Gostava de os ver no Avante a tocar gaita, vestidos de flanela da cabeça aos pés.

Aconteceu com Álvaro Cunhal e outros pré-revolução, lembram-se? Acreditavam que era possível mudar o estado de coisas. Mas curioso, na altura chamavam perseguição, fascismo e supressão da liberdade (e bem) à forma como foram tratados pelo regime. Só porque tinham ideais distintos. Queriam ser livres e acabavam presos. Agora, numa situação em tudo semelhante, não lhe chamam nada. É engraçado ver como funciona o PCP: mudam-se os tempos, mudam-se as liberdades.

Algo a dizer sobre o facto do querido regime chinês ter colocado ontem a mulher do galardoado em prisão domiciliária? Nenhum comunicado do PCP sobre esta matéria? Nada?

O único "golpe na credibilidade" será na do PCP e na de quem assina estes patéticos comunicados. O PCP não consegue descolar das posições internacionais do partido. E olhando o mapa mundi político o comunismo é uma espécie rara, em vias de extinção. Agarrados a resquícios ideológicos sem perceberem que apenas evoluindo na mentalidade garantem sobrevivência. Este comunicado é um tiro no pé, no partido e na sua história feita de lutas várias. Uma atitude deplorável, desrespeitosa, serviçal, mesquinha e patética.

Este PCP cheira a mofo e deverá ser extinto no tempo. Resta deixar que a selecção natural aplicada à política e ao papel de certos partidos na sociedade actue, levando ao seu mais do que provável desaparecimento.»

Texto de Tiago Mesquita, in Expresso online, 12-10-2010



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