Casal e três filhos dormiram ao relento
"Mantas e cobertores serviram de tecto a um casal e três filhos, que viram esta quinta-feira a casa onde viviam há 13 anos ser demolida, no Feijó, Almada. Dormiram na rua, porque nem a Câmara nem a Segurança Social lhes deram apoio.
Paulo e Célia Maia, ambos de 36 anos, e os três filhos, de 1, 8 e 13 anos, foram alvo de uma acção de despejo e alegam ter sido enganados pelo assistente social que lhes tem acompanhado e pela proprietária. "Esta família que foi desalojada foi coagida. O senhor não sabe ler e a Segurança Social veio cá com um papel há um mês para ele assinar", adiantou, ao JN, Sara Delgado, advogada que está a tentar ajudar a resolver o caso.
"Foi-lhe dito para assinar, que era para o bem dele. O bem dele é estar agora na rua com os filhos", adiantou, lembrando que há 13 anos foi feito um pedido de realojamento à Câmara de Almada. "Daqui não saio até à Câmara resolver o meu caso", diz Paulo Maia, garantindo que a família vai continuar a dormir na rua até que seja encontrada uma solução.
"Temos uma família a dormir na rua à espera que alguém decida ajudá-la. E andam todos no jogo do empurra. A Segurança Social diz que não tem nada a ver com o assunto e remete para a Câmara e esta para a Segurança Social", contesta Cristina Sousa, uma residente na zona.
As famílias referem que o terreno em causa será em breve doado à Câmara de Almada, mas a autarquia nega qualquer responsabilidade pela demolição. "É perfeitamente alheia à Câmara. Foi uma acção de um particular que interpôs uma ordem de despejo, que foi aceite pelo tribunal", adiantou, ao JN, o vereador da Habitação Social, Rui Jorge.
O motivo para o despejo terá sido a ocupação não autorizada das construções, o que é negado pelas cinco famílias. "São arrendatários. A senhoria neste momento não quer aceitar as rendas, mas pelo menos dois deles já criaram uma conta onde depositam o dinheiro todos os meses", explica a advogada Sara Delgado.
Contabilizando a família desalojada ontem, estão em risco 20 pessoas, metade das quais crianças, cujas habitações deverão ser demolidas.
"Mesmo que não houvesse demolição, é desumano a forma como vivemos. Eu, por exemplo, tenho uma fossa a céu aberto dentro de casa", conta Hugo Maia, de 34 anos, que vive há 13 anos na Quinta das Amoreiras.
A Câmara de Almada garante que para já não pode assegurar o realojamento. "Temos pedidos de habitação para aquelas pessoas, mas não temos capacidade para realojar toda a gente", diz o vereador Rui Jorge."
in JN online, 13-3-2009
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