Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sábado, 18 de abril de 2009

Eliana Tranchesi (Brasil): A queda estrondosa de um 'bunker' de luxo


A dona da loja mais luxuosa do Brasil foi condenada a 94 anos e seis meses de cadeia por crimes de fraude fiscal. Apenas 38 horas depois de ingressar na prisão de Carandiru, a empresária regressou ao seu condomínio de luxo. Por estes dias, no Brasil não se fala noutra coisa.

Carregava apenas uma Bíblia e remédios para o cancro que lhe invade silenciosamente a coluna quando entrou na prisão feminina de Carandiru, em São Paulo, dia 26 de Março. Eliana Tranchesi, dona da maior loja de luxo do Brasil, começava assim a cumprir a pena de 94 anos e seis meses de prisão por crimes financeiros. Assim que foi detida, a empresária montou uma mise en scène à altura do seu império. Deu uma entrevista, rezou com duas reclusas, mandou um bilhete para a imprensa a dizer que a sua detenção era uma barbárie e anunciou o seu primeiro projecto assim que saísse da prisão: começar a evangelização das favelas de São Paulo.

Apenas 38 horas depois de vestir o uniforme branco e bege de reclusa, Eliana Tranchesi regressou ao seu condomínio de luxo no bairro do Morumbi, em São Paulo, paredes-meias com a favela Paraisópolis. Agora, já se fala na possibilidade de a empresária passar incólume perante as acusações de fraude fiscal no valor de pelo menos 600 milhões de reais (207 milhões de euros).

Considerada pelo New York Times "um oásis de indulgência no meio da pobreza", a Daslu é um ícone de ostentação criticado por algumas franjas da sociedade brasileira que agora aplaudem de pé a prisão da empresária.

Meca do consumo instalada numa mansão de 20 mil metros quadrados, a Daslu vende marcas de luxo como Chanel, Gucci e os famosos sapatos Manolo Blahnik, helicópteros e penthouses no Leblon e Ipanema e ilhas em Angra dos Reis. O cúmulo do luxo decadente da megaloja fica bem patente no último andar, onde foi instalado um heliporto para os super-ricos pousarem o seu meio de transporte favorito para uma tarde de compras.

A Daslu nasceu em 1958. Na altura, a socialite Lúcia Albuquerque (mãe de Eliana Tranchesi) e a sua amiga Lurdes Aranha montaram uma pequena boutique numa das salas de casa de Lúcia. Sem grande imaginação, baptizaram o espaço de Daslu, inspiradas no seu próprio petit nom, "Lú". Em 1983, Lúcia morreu e o negócio passou para os filhos. Eliana, na altura com pouco mais de vinte anos, sonhava ser artista plástica, mas cedo percebeu que tinha queda para o negócio. Assim que o presidente Collor de Mello permitiu a importação de produtos estrangeiros, em 1990, a empresária rumou para a Europa a fim de adquirir para a sua loja marcas italianas e francesas de alta qualidade. Ávidas por produtos europeus de griffe (como se diz no Brasil), as socialites faziam desaparecer num ápice o stock dos stilletos Manolo Blahnik e dos tailleurs Chanel. Assim, em pouco tempo, as vendas anuais da Daslu chegaram a 400 milhões de reais por ano (138 milhões de euros).

O azar chegou em 2004. Na altura, um contentor com uma encomenda Gucci chegou ao aeroporto de Guarulhos contendo no seu interior a factura correspondente, originária de Itália. Não sabendo que essa nota de encomenda tinha sido encontrada pelas autoridades, os responsáveis da Daslu apresentaram à fazenda brasileira uma factura falsa que indicava que a tal encomenda entrara no Brasil através de Miami e com um valor muito inferior ao verdadeiro. A partir daí as autoridades brasileiras ficaram de olho em Eliana e no seu irmão António Carlos Albuquerque. Em 2005, escutas telefónicas mostraram que ambos se preparavam para queimar documentos incriminatórios. A fim de evitar o desaparecimento de provas, em Julho desse ano, teve lugar a operação "Narciso" da polícia de receita fiscal brasileira com o objectivo de desmascarar as fraudes da Daslu. Eliana foi presa durante dez horas.

Quatro anos mais tarde, voltou para trás das grades por um curto período de tempo. Entre as duas ordens de prisão, a empresária ganhou muitos adeptos principalmente depois de ter anunciado publicamente que sofria de cancro do pulmão, em 2006, do qual se curou. Recentemente, revelou ter metástase na coluna.

Para já fazem-se apostas: será que Eliana alguma vez será presa? A maioria acredita que não.

in DN online, 18-4-2009




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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.