Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

As contradições do Juiz Rui Rangel...


"O blogueiro anónimo.
Esta gente rasteira que escreve sem se identificar só tem arte para discutir pessoas e não ideias e princípios

Neste mundo global, ninguém questiona as virtualidades e as vantagens dos blogues, enquanto ferramenta multifuncional que promove uma nova forma de comunicação, uma forma de expressão completamente livre. De facto, quando o blogue é usado correctamente constitui um importante instrumento de debate público, de debate pertinente e sério, prestando um bom serviço ao exercício da Democracia.

Mas o blogue que permite que a grande maioria dos bloguistas se refugie no anonimato não é sério, nem presta um relevante serviço à sociedade. Bem sei que o anonimato foi uma conquista para fugir à opinião massiva, para poder discordar sem ser identificado, evitando ser colocado à margem do grupo. Mas também sei que esta característica específica dos blogues, assente no anonimato, tem servido para proteger gente cobarde e mesquinha, que se refugia nesta forma de comunicar para vinganças pessoais, para ofender a honra e o bom-nome das pessoas que dão a cara e que não têm medo de pôr a assinatura em tudo o que fazem. Esta gente rasteira que se esconde por detrás do biombo do anonimato só tem arte e engenho pa-ra discutir pessoas e não ideias e princípios. A espiral de silêncio de que nos fala a socióloga Noelle Neumann é a fronteira que distingue a qualidade e a honestidade intelectual entre os blogues.

O blogueiro anónimo é, infelizmente, também juiz. Também este, que é o rosto visível da Justiça, de uma Justiça que se quer de cara destapada e transparente, se refugia nesta forma desprezível de comunicar, torpedeando o que lê, caluniando, sem qualquer respeito e tolerância. Talvez o Conselho Superior da Magistratura devesse estar atento a alguns blogues que acompanham as questões da Justiça e que em nada dignificam o Poder Judicial.

As ofensas anónimas estão nos antípodas da crítica construtiva, proporcional e adequada. É bom que o juiz anónimo saiba que o blogue não foge às regras do ordenamento jurídico português nem aos limites do exercício de liberdade, de manifestação e de pensamento. E é bom também que saiba que o titular do blogue é responsável, civil e criminalmente, pelos comentários injuriosos. Para cada direito criado há limites.

Quem se esconde na caverna do silêncio e da penumbra, para ter o momento de glória quando escreve sem se identificar, demonstra fraca personalidade e não tem o mínimo de respeito e de amor pelos direitos de personalidade."

Rui Rangel, Juiz Desembargador, Correio da Manhã online, 08-10-2008
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Caro Juiz Rui Rangel,
Li atentamente o seu artigo de opinião (em cima transcrito na íntegra), e fiquei perplexo com tantas contradições.
O senhor sabe - no artigo percebe-se que sabe - que o anonimato nos blogues é apenas aparente, já que qualquer Autoridade Judiciária pode ordenar a um OPC que identifique o blogueiro e, se for caso disso, responsabilizá-lo...e tem o descaramento de chamar "cobardes" aos blogueiros que optam por não identificarem os blogues com os seus nomes?
Por acaso, alguma vez lhe passou pela cabeça que há seres humanos que dispensam a vaidade pessoal e narcisista para se afirmarem na vida?
Ser corajoso passa por uma permanente e obsessiva observação do próprio umbigo?
Acha que todos precisam - para uma realização pessoal e profissional -, de "dar nas vistas" na comunicação social e/ou do encosto de uma qualquer Associação?
Já alguma vez ouviu dizer que há homens verdadeiramente livres?
Ser corajoso é vir para a comunicação social fazer "chantagens" como esta: "Sempre votei PS mas não sei se voltarei a votar" ?
Para finalizar, deixo-lhe uma pergunta: Como Magistrado sente-se eticamente confortável ao receber honorários de uma empresa privada (Correio da Manhã) pelos artigos de opinião que escreve?
Cumprimentos
Zorate
PS: Um dia destes, a gente encontra-se no Galeto, e...bebemos um copo! :)

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.