Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Juridicamente está encontrado o culpado, mas...

"José Pais, 37 anos, desconfiava de que a mulher lhe era infiel. Por isso impôs uma condição antes de assinar o divórcio, há três semanas: não queria outro homem a dormir naquela que fora a sua casa durante 15 anos, em Moreira, Nelas. Ontem, à 01h00, o operador de máquinas antecipou o regresso de Espanha por um dia e apanhou a ex-mulher, de 31 anos, com o companheiro, de 48 anos. Abateu os dois a tiros de caçadeira, disparados à queima-roupa, e levou os quatro filhos a casa dos sogros.

Depois de entregar as crianças aos avós, o homicida esperou calmamente pela GNR. Os pormenores do crime foram depois conhecidos: antes de entrar na divisão onde estava a ex-mulher e o namorado, José Pais reuniu as crianças no mesmo quarto. Sem fazer barulho, um bebé de ano e meio, duas meninas gémeas com seis anos e um rapaz de dez obedeceram ao pai.

A seguir, e sempre empunhando uma caçadeira, abriu a porta do antigo quarto e disparou três tiros. Os primeiros dois sobre José Martins, que se encontrava de pé e esboçou uma tentativa de defesa, o último na testa de Fátima Pereira, deitada na cama. Tiveram morte imediata. Os menores, que ouviram os disparos e os gritos da mãe, foram depois levados pelo pai para casa dos avós maternos, a quem descreverem tudo.

José Pais deixou 50 euros e o carro na casa dos sogros e dirigiu-se a pé para Nelas, a fim de se entregar à GNR. Mudou de ideias e regressou ao local do crime, onde esperou pelas autoridades. Quando os militares o encontraram, confessou logo a autoria do duplo homicídio e depois levou-os ao quarto onde estavam os cadáveres.

Segundo apurou o CM, José Pais antecipou de propósito o regresso a Nelas. Após ter terminado mais um dia de trabalho na zona da Galiza, Espanha, meteu-se no seu BMW e fez a viagem sem parar. Quando chegou à ex-residência apercebeu-se que nela estava o companheiro da ex-mulher. José Pais vai ser presente hoje às 10h00 ao juiz do Tribunal de Nelas.

CRIANÇA CONTOU TRAGÉDIA AO AVÔ
Quando abriu a porta de casa ao início da madrugada e viu os quatro netos, em pijama e descalços, na companhia do pai e sem a mãe, Joaquim Pereira, 58 anos, avô materno das crianças, pensou "logo o pior". "Foi o meu neto mais velho que me disse que a mãe já devia estar morta. Ele [José Pais] não teve coragem de me dizer nada", contou ao CM Joaquim Pereira, abanando a cabeça em sinal de incompreensão.

O pai da vítima diz "desconhecer" o actual companheiro da filha e ficou "muito surpreendido" com a presença do ex-genro em Nelas. "Eles tinham assinado o divórcio há três semanas, pelo que agora tinham ambos liberdade para seguir cada um o seu caminho", refere Joaquim Pereira. "Estiveram casados 15 anos, com momentos felizes mas também alguns problemas. Ele por vezes era violento para com a minha filha, mas ela nunca se queixou de nada. Nunca pensei que ele fosse capaz de a matar", lamenta.

Joaquim Pereira diz que vai "fazer tudo" para ficar com a tutela dos netos, porque tem "condições para os criar". O caso está a ser acompanhado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Nelas e a decisão final caberá ao tribunal.

"INFIDELIDADE E CIÚMES"
O homicida "tentou ir a pé até Nelas", mas depois optou "por esperar junto à casa", confirmou ao CM o capitão Adriano Resende, comandante do Destacamento da GNR de Mangualde. Os militares tomaram conhecimento do duplo homicídio através de uma chamada anónima efectuada para o posto de Canas de Senhorim. Chegaram ao local do crime, onde o José Pais se "entregou sem oferecer qualquer resistência física", adiantou o oficial da GNR, salientando desde logo que os homicídios terão sido cometidos devido a "questões de infidelidade e de ciúmes". A maioria dos habitantes só soube das mortes de manhã. "Realmente ouvi três tiros, mas não liguei. Só soube quando ia trabalhar", disse António Lopes. Já o taxista António Rego, que fez serviços para o casal, refere que as mortes "já não fazem qualquer sentido porque eles estavam legalmente divorciados".

PORMENORES

VÁRIOS PAÍSES
José Pais começou a trabalhar muito jovem e especializou-se na condução de máquinas de terraplanagem. Já trabalhou na Irlanda, Inglaterra, Holanda e ultimamente estava em Espanha.

ÓRFÃO
O autor do crime nasceu em Oliveira de Barreiros, entre Viseu e Nelas. Na aldeia só vive família afastada – os pais morreram há vários anos.Quanto ao companheiro da ex-mulher, era de Vilarelho da Raia, Chaves.

CHAVES
Os vizinhos disseram que o casal esteve "há vários anos a residir na zona de Chaves" por motivos profissionais. Depois voltou a Nelas e construiu a casa onde ocorreu o crime."

in CM online, 31-10-2008


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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.