"Surpresa. Dos oito livros finais que sobraram dos 448 concorrentes, seis eram brasileiros e dois portugueses. O grande vencedor é um desconhecido em Portugal. Jornalista brasileiro, Murillo António de Carvalho é um viajante e anda quase sempre só, a filmar a terra e as suas gentes.
Jornalista brasileiro recebe cem mil euros.
"Ainda não sei bem o que vou fazer com tanto dinheiro. É de facto muito dinheiro. Penso que vou continuar viajando e financiar mais documentários. Trabalhar na Amazónia fica muito caro", revelou ao DN, por telefone, o brasileiro Murillo António de Carvalho, 60 anos, que acabara de saber ter vencido o prémio Leya, com a sua obra O Rastro do Jaguar.
Especialista em documentários para televisão, Murillo encontra-se neste momento na Amazónia a fazer um documentário para o canal brasileiro SBT "sobre alguns rios na Amazónia que estão vivendo as suas peculiaridades com a seca, onde também quero mostrar uma série de situações difíceis em que vivem índios e cabouclos", explica ao DN.
Com oito livros de reportagem publicados no Brasil e em França, assim como várias longas metragens, Murillo recebera nos anos 80 com Fronteiras das Almas o 1º Prémio do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro.
O seu romance, que venceu entre 448 originais, fala sobre a guerra do Paraguai no século XIX, cuja trama passa por Portugal, Brasil, Argentina e Uruguai. Um jornalista português e um índio que é levado para a Europa em criança e regressa aos 50 anos, vindo a tornar-se num líder guerreiro guarani, são alguns dos personagens. "O livro não fala só dessa guerra, fala também de como esses índios concebem o universo e como vêem a guerra contra brancos e gaúchos", conclui o autor.
Votação secreta
A votação do júri foi secreta e nenhum dos seus membros sabia quem era o autor das obras que leu. Ontem, na conferência de imprensa, Isaías Gomes Teixeira, do grupo Leya, disse que a escolha dos seu membros fora "feita de acordo com a competência e carácter de cada um, porque o prémio tem de ser transparente". Entraram no júri Manuel Alegre , Nuno Júdice, José Seabra Pereira, Lourenço da Costa Rosário, Rita Chaves, Pepetela e Carlos Heitor Cony.
Para o júri, O Rastro do Jaguar "é obra de fôlego, que refigura uma vasta erudição, combina narrativa histórica e arte poética, elaboração wagneriana e aura profética, de forma a prender o interesse da leitura por uma saga onde se conjugam a busca individual de raízes e o destino ameríndio."
in DN online, 15-10-2008
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