Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 19 de outubro de 2008

Poliamor é um novo modelo de relação...


"Relações múltiplas, simultâneas e consentidas. Não é só sexo. Sexo e afecto. Amores múltiplos. Poliamor. Um conceito novo para uma prática que sempre terá existido e que desafia um dos tabus maiores da nossa sociedade: a monogamia.

Uma nova forma de conjugalidade, sem exclusividade afectiva e sexual e com igualdade de direitos. O que significa que não há lugar para traições, ilusões ou infidelidades. Porque ninguém é enganado.

Não se trata de apenas sexo, como acontece com o swinging ou a infidelidade sexual consentida, em que os envolvimentos emocionais estão proibidos. No poliamor (ou polyamory), a afectividade é a dimensão mais importante.

"O poliamor retira o peso excessivo ao sexo", defende Ana ou Antidote como é conhecida no activismo do poliamor ou da não monogamia responsável. E acrescenta: "O mandamento da monogamia, da exclusividade, é substituído pelo mandamento da honestidade: não pode haver ninguém enganado".

Difere também da poligamia - prática em que um dos cônjuges (normalmente o homem) tem vários parceiros - pela democratização dos direitos. "A não fidelidade masculina era socialmente aceite, enquanto a infidelidade feminina sempre foi, e ainda é nalgumas culturas, severamente punida. O poliamor é uma estratégia de democratização das relações íntimas", sublinha João Oliveira, sociólogo e docente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (Lisboa).

Não se sabe quantos poliamorosos existem em Portugal. A introdução do conceito, no nosso país, é relativamente recente. A mailing list poly_portugal conta com cerca de 60 participantes, número que não traduz a real dimensão da comunidade de poliamorosos em Portugal, explica Ana, uma das moderadoras do fórum.

Lara criou, há cinco anos, o site poliamor.pt, que recebe cerca de 170 visitas por mês. Mais recentemente, começaram a organizar-se, em Lisboa, encontros semanais de pessoas interessadas nesse estilo de vida.

O facto de agora começar a ser divulgado um conceito que traduz o que muitos já sentiam como sendo a sua forma de estar nos relacionamentos, mas não sabiam como designar, pode "facilitar a que apareçam mais pessoas que se identifiquem com essa prática", considera o sociólogo.

Neste modelo, não são os papéis de género que organizam a relação nem é a tradição que regula o que é ou não permitido. "É uma proposta com o objectivo de libertar as pessoas de formas de relacionamento que as limitam", sublinha o investigador.

Para Gabriela Moita, psicóloga clínica especializada em sexualidade e docente universitária, "o ser humano não é monogâmico ou polígamo por natureza". "É a socialização que nos ensina a forma de pensar e seleccionar os sentimentos, levando-nos a reprimir ou a permitir certo tipo de emoções", acrescenta.

"Quase todas as pessoas já sentiram emoções por várias pessoas ao mesmo tempo. Mas, o que normalmente acontece é a pessoa colocar-se em causa, considerando que há algo de errado consigo ou com a relação que tem. E, como é socialmente condenado, acaba por escolher um dos sentimentos", explica a psicóloga.

Este é o comportamento mais habitual, o que não significa que seja o mais saudável. "Tudo o que traga liberdade aumenta a saúde mental", frisa Gabriela Moita, acrescentando que o que causa problemas é o "amor dependente". Ou seja, "esperar que o outro nos complete e seja tudo para nós".

Trata-se, porém, de uma opção que não é fácil de assumir. À excepção de um caso, todas as pessoas que falaram ao JN solicitaram o anonimato. Por receio de sanções familiares, sociais e até profissionais. Colocar em causa a monogamia é encarado como um ataque à instituição do casamento e espoleta reacções extremas.

Mas será que as novas formas de conjugalidade são uma ameaça social? "O poliamor é uma alternativa de estilo de vida, um outro modelo de relacionamento. Não ameaça nem substitui o que já existe", defende o sociólogo João Oliveira. "
in JN online, 19-10-2008

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.