...e passiva.
«As agendas e notas pessoais de alguns dos arguidos do caso dos CTT foram um excelente ponto de partida para a Polícia Judiciária. Em vários documentos apreendidos a Júlio Macedo, antigo administrador da empresa que comprou o imóvel de Coimbra e que é suspeito de corrupção activa, constam desenhos com esquemas do pagamento de comissões. Os beneficiários são referidos por iniciais. O relatório final da Polícia Judiciária, a que o DN teve acesso, revela ainda um contacto entre o ex-presidente do Banco Insular, Vaz Mascarenhas, com José Oliveira Costa, antigo presidente do BPN, sobre um negócio dos CTT.
As notas pessoais foram apreendidas na sede da empresa TramCrone, que negociou com os CTT a compra de dois prédios, um em Coimbra, o segundo em Lisboa. Os apontamentos recolhidos revelam que os administradores Júlio Macedo e Pedro Garcês estariam a montar um esquema de pagamentos de comissões para as quais seriam, posteriormente, necessárias operações comerciais que justificassem a saída das verbas. Neles constam iniciais: CHC, MB, JL, PM, NS.
O negócio do prédio de Coimbra foi realizado por cerca de 15 milhões de euros. O negócio estava para ser feito com a TramCrone, mas, à última hora, quem apareceu foi a Demagre, uma empresa que, segundo a Judiciária, foi constituída por um escritório de advogados e tinha como sócias duas sociedades offshore. No mesmo dia, a Demagre revendeu o prédio a uma empresa do grupo Espírito Santo por 20 milhões, sendo que ficou acordado que o preço subiria caso a Demagre angariasse inquilinos para o espaço.
A investigação apurou que foram realizados inúmeros contactos para levar instituições a ocuparem espaços no edifício. A Direcção-Geral da administração da Justiça chegou a instalar o Tribunal Administrativo e Fiscal.
Já em relação ao negócio do prédio em Lisboa, a TramCrone posicionou-se para a sua compra, mas esta acabou por não se efectivar, dado que um cheque de 12,5 milhões de euros não tinha provisão. É neste contexto que surge uma carta de José Vaz de Mascarenhas, antigo presidente do Banco Insular de Cabo Verde, que está no centro do caso BPN, a José Oliveira Costa, contando que o negócio entre os CTT e a TramCrone seria apenas uma simulação para "a saída do imóvel do património" dos Correios "no contexto da transferência do seu fundo de pensões para a Segurança Social".
Investigando o rasto do dinheiro das comissões, que estão documentadas no processo, a Judiciária acabou ainda por descobrir que Paulo Miraldo, enquanto chefe de gabinete do ministro António Mexia, depositou cheques passados por dois conhecidos empreiteiros. Paulo Miraldo também está constituído arguido. »
in DN online, 09-7-2009
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