Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Foda-se o Benfica perdeu! Se o árbitro fosse pró caralho, é que fazia bem!"..Os pais indignados com este Dicionário não dizem isto em casa? Eu não...

«Dicionário do 1.º ciclo com palavrões

Professores estão a recomendar a crianças entre os seis e os oito anos material de apoio pedagógico com "vulgarismos". Pais indignados




Há escolas que estão a recomendar um dicionário com palavrões aos alunos do 1.º ciclo. A sugestão é feita através da lista de material enviada aos encarregados de educação, apesar de o dicionário, já com o acordo ortográfico, estar recomendado pela editora apenas para alunos a partir do 3.º ciclo.

O Dicionário Básico de Língua Portuguesa, da Porto Editora (capa azul), que custa 5,5 euros, apresenta palavras como "c..." (órgão sexual masculino), "c..." (órgão sexual feminino) e "f..." (acto sexual). Este já circula entre os alunos que frequentam o 1.º ciclo do Agrupamento Vertical de Escolas Cetóbriga, em Setúbal, originando a indignação dos pais e dividindo os docentes.

Mas há muitas mais onde está a ser usado. Várias livrarias contactadas pelo DN em Lisboa, Almada, Barreiro e Setúbal confirmaram a procura do dicionário e por recomendação dos professores do ensino básico. E a Porto Editora revela que o dicionário em que surgem os "vulgarismos" está a ter mais procura este ano, embora desconheça o motivo. O critério para os dicionários destinados aos alunos dos 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico "é não registar vulgarismos", pelo que não é recomendada para crianças entre os seis e os dez anos.

Albino Almeida, da Confederação Nacional das Associações de Pais, não entende a opção das escolas. "É uma riqueza típica de um país pobre que as escolas adoptem um dicionário tão completo." E defende que os estabelecimentos de ensino "deviam manter os tradicionais dicionários escolares".

A opinião é partilhada pela Associação Sindical dos Professores Licenciados. Maria João Gonçalves refere que a escolha do dicionário pertence às escolas, pelo que deveria ser tomada outra opção que impedisse as crianças de contactarem com os palavrões. "Não podemos encarar isso de boa forma e lamentamos que esteja a ser indicado este dicionário", diz.

Manuel Grilo, do Sindicato dos Professores do Grande Lisboa, desconhece que as escolas estejam a recomendar dicionários, por não serem de compra obrigatória. "O normal é que a escolha seja dos pais. O professor só indica que o miúdo vai precisar de um dicionário e cada um compra livremente", sublinha.

Já a Associação de Professores de Português (APP) concorda que os alunos comecem a ter contacto com este tipo vocabulário a partir do 3.º ano. "Uma das regras básicas de um dicionário é incluir palavras desde que estejam consagradas na língua portuguesa. Até mesmo para os miúdos saberem o seu significado. Já Gil Vicente e Camões as escreveram", admite Edviges Antunes Ferreira, da APP. E acrescenta: "Não percebo porque é que a Porto Editora lança o dicionário azul com essas palavras e um cor de laranja que não as tem."

Segundo o Ministério da Educação, a escolha das publicações inscreve-se no quadro de "independência das escolas", sendo que o dicionário "não pode ser censurado porque os vocábulos existem", remata fonte oficial.»

Texto in DN online, 22-9-2010

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