Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Alzheimer: Reconhecer os primeiros sinais da doença...


"A Onde pus as chaves? O que é que eu vim fazer à cozinha? Será que me devo preocupar com a minha - vocês sabem, aquela coisa, como é que se chama? -, a minha memória? Ou isto é algo que acontece a todos quando envelhecemos? Vamos dar respostas a várias perguntas sobre a perda de memória, com a ajuda de três especialistas em neurologia: James McGaugh, da Universidade da Califórnia em Irvine, o médico Gary Small, director da Clínica de Memória e do Centro de Geriatria da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e o seu colega William H. Thies, vice-presidente da secção de relações médicas e científicas da Associação de Doentes de Alzheimer.
Acho que estou a perder o juízo. Combino ir a uma reunião e depois esqueço-me completamente dela. Sou apresentado a alguém e cinco minutos depois já não me lembro do seu nome. Será que tenho a doença de Alzheimer? Esquecer coisas que aprendemos recentemente é um sinal de aviso do início da doença de Alzheimer, afirmam os nossos três especialistas. "A capacidade de consolidar e armazenar novas memórias é a primeira coisa que desaparece", diz McGaugh. "As memórias mais antigas mantêm-se durante muito tempo.
"Os doentes com Alzheimer podem continuar a ter recordações muito ricas das memórias de infância, de canções que adoram e de actividades complexas, como jogar ténis, mas não se lembram do nome do seu neto.
Mas a importância destes lapsos de memória depende de quão esquecido você sempre tenha sido, e de se concentrava e prestava atenção quando aprendia o nome de alguém ou se preparava para ir buscar alguma coisa à sala ao lado. A distracção muitas vezes causa lapsos em pessoas com a cognição perfeitamente intacta - principalmente quando o estímulo inicial não é completamente processado.
"Quem não presta atenção nunca aprende realmente", declara Small, autor de The Memory Bible e de um novo livro, iBrain.
Quando uma pessoa que sempre foi muito escrupulosa a comparecer a reuniões começa a faltar, estamos na presença de uma alteração preocupante. Uma pessoa que sempre foi um pouco desorganizada ou facilmente distraída pode ter outros problemas, como falta de atenção ou depressão crónica.
Se as falhas de memória são coerentes com um padrão que se mantém por toda a vida, é bastante improvável que se tenha a doença de Alzheimer, dizem os nossos peritos.
Talvez esteja apenas a ficar velho, mas a verdade é que, no trabalho, uma tarefa que normalmente me levava duas horas agora leva-me quatro. Sempre fui rápido e eficiente no meu trabalho, mas já não estou a funcionar no meu melhor.
Ter dificuldades em tarefas que nos são familiares e problemas com o pensamento abstracto pode ser um primeiro sinal da doença de Alzheimer. Durante muitos anos o cérebro, à medida que vai envelhecendo, pode compensar a sua menor "performance": sabe mais acerca do mundo e dos seus padrões do que um cérebro mais jovem e mais rápido.
Mas se rotinas de trabalho já não surgem tão rapidamente como antes, talvez os benefícios da idade estejam a ser reduzidos pela doença. Por exemplo, se você não conseguir detectar e reconhecer padrões no emprego - digamos, antecipar pela experiência onde surgirão os engarrafamentos na produção -, valerá a pena falar do assunto com o seu médico.
Sentir dificuldades em fazer somas de cabeça ou em visualizar o caminho para o seu próximo compromisso podem ser sinais de "stress" e distracção - coisas que todos nós temos, e muito, no emprego. Mas se coisas que sempre fizemos no trabalho agora nos confundem, então isso é um problema que necessita de avaliação médica.
Às vezes, cometer erros ao fazermos coisas que são quase automáticas avisa-nos de que algo não está certo. Quando o pai sai da mercearia e vira à esquerda em vez de virar à direita para voltar para casa, tal não deve ser desvalorizado como simples distracção. As pessoas que mostram os primeiros sintomas da doença de Alzheimer muitas vezes ficam desorientadas ao realizarem tarefas normais.
A velocidade com que essas dificuldades se instalam é um factor importante a ter em conta. A chegada dos sintomas da doença de Alzheimer é geralmente gradual e insidiosa, o que os torna fáceis de confundir com o declínio mental que surge com a idade.
Já no caso de uma pessoa que sofreu um enfarte ou entrou em depressão, as dificuldades com tarefas rotineiras e cálculos mentais podem aparecer de um modo relativamente súbito.
Coloco coisas fora dos seus lugares. E quando estou a conversar, por vezes falta-me a palavra de que estou à procura.
O que é que tenho de errado?
Pôr os óculos dentro do frigorífico ou na caixa das bolachas em vez de os colocar na mesa-de-cabeceira pode ser sinal de algum problema. Pôr coisas em locais errados é um dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer.
Estará também na altura de consultar um médico especialista em memória quando começar a perguntar à sua mulher se ela viu os seus óculos e se tiver dificuldades em pensar na palavras para os designar, ou se a palavra que lhe vier à cabeça não for a correcta. Por vezes, as pessoas que sofrem da doença de Alzheimer na sua fase inicial afirmam que chegam muito perto da palavra que estão à procura - "aquela coisa que ponho no meu nariz" em vez de "óculos". Por vezes ficam apenas baralhadas.
A forma como os problemas surgem pode dar pistas para a sua causa. Dificuldades súbitas em encontrar palavras podem ser um sinal de que se está a sofrer um ataque, ou que este já ocorreu. Um cão a ladrar ou um telefone a tocar que afectam a sua concentração enquanto procura os seus, os seus... como é que se chama aquilo... podem indicar que a culpada é a distracção.
O fenómeno do "ter na ponta da língua", em que uma palavra ou um nome estão lá num momento e se esfumam no momento seguinte, é sinal comum e normal da perda de memória causada pelo envelhecimento. Mas quando as palavras para designar objectos corriqueiros e familiares se mostram fugidias, e a substituição de palavras, particularmente daquelas que nos parecem estranhas, começa a acontecer com regularidade, poderá então existir razões para preocupação.
A minha mulher/amiga/familiar diz que me estou a comportar de maneira diferente e está preocupada com os meus lapsos de memória. Não me parece que algo tenha mudado. Devo preocupar-me?
Problemas de memória que assinalam a presença de doença são normalmente evidentes em primeiro lugar para aqueles que rodeiam o paciente. "Não será sempre você o primeiro a notar; será a sua mulher", diz McGaugh.
Os médicos baseiam-se muito nas observações de amigos ou familiares - no fim de contas, muitas vezes os especialistas estão a ver um doente pela primeira vez, mas já um parente próximo pode detectar mudanças nos comportamentos, humores ou hábitos diários e relatar quão abrupto ou dramático tem sido seu o aparecimento.
Ao mesmo tempo, as pessoas que estão nas primeiras fase da doença de Alzheimer - especialmente aquelas com toda uma vida de agilidade mental, ou "reserva cognitiva", a que podem recorrer - decidem frequentemente esconder o facto de que não conseguem lembrar-se do que aconteceu no dia anterior. Nestes casos, a pessoa gradualmente mais esquecida é a primeira a notar que as suas funções cognitivas estão a falhar, mas a última a admiti-lo.
É normal haver muita negação - tanto da parte dos doentes como da parte dos seus familiares - quando aparecem sinais de demência. Muitas pessoas conseguem compensar a sua crescente confusão e esquecimento porque são espertas e possuem muitos recursos. Quando as mudanças no comportamento e na memória se tornam demasiado óbvias para poderem ser negadas, está na altura de prestar atenção.
A minha mãe sempre adorou sair de casa e visitar amigos e nunca foi pessoa para desperdiçar tempo. Mas agora passa dias e dias sem fazer nada, e não tem vontade de estar com outras pessoas. Às vezes fica subitamente zangada ou triste, ou então confusa e cheia de suspeitas. O que é que se passa?
Alterações na motivação e na personalidade surgem frequentemente com a doença de Alzheimer, mesmo nas fases iniciais. É comum os médicos considerarem tais mudanças como sinais de depressão - e, de facto, a depressão é o problema psiquiátrico mais comum nas populações idosas.
Mas súbitas alterações de humor e reacções emocionais erráticas ou irracionais para com os mais próximos podem ser indícios da doença de Alzheimer. E as pessoas na fase inicial da doença de Alzheimer muitas vezes, antes de reconhecerem que têm um problema, afirmam que se sentem muito menos motivadas - quer seja porque têm medo de se enganar ou perder se saírem, ou apenas... porque sim.
Com a idade todos nós abrandamos. Mas se uma pessoa que era muito enérgica passa agora horas em frente à televisão e descura passatempos ou interesses duradouros, pode ser necessária uma avaliação.
Mudanças na higiene por vezes dão pistas. Se a sua mãe, que normalmente se veste e maquilha na perfeição, aparece para uma visita sem batom, ou se o seu meticuloso pai começa a usar meias diferentes uma da outra, poderia ser produtivo discutir estas alterações com o seu médico. Por fim: qualquer mudança visível nas suas funções de memória ou mentais merece que marque uma consulta, declaram Thies, Small e McGaugh. Em muitos casos, um paciente volta para casa descansado, e não com um diagnóstico de doença."
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Por Melissa Healy, Los Angeles Times, reproduzido pelo Público online, 04-01-2009

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