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Coincidindo com a posse de Barack Obama, Terça-feira, em Cabo Verde, não poucos vão celebrar duas figuras que a história junta nesse dia - Amílcar Cabral, morto a 20 de Janeiro de 1973, e Barack Obama, novo Presidente dos Estados Unidos, que toma posse também no dia 20.
Um duplo simbolismo parece emergir nesta data cabo-verdiana, primeiro a da celebração de figuras que, cada uma em seu tempo, foram capazes de mobilizar esperanças e projectar sinais de um mundo melhor, depois por ser a América o único "espaço branco" onde um negro pôde desejar e conquistar a Presidência da República, e de ser Cabo Verde, talvez, o único "espaço negro" onde um branco poderia desejar e, eventualmente, alcançar o topo do Estado.
Acrescem outras ligações entre a América e Cabo Verde.
Amílcar Cabral é, nos Estados Unidos, uma figura de referência, profundamente estudada e considerada, sobretudo no plano das universidades, fazendo parte da galeria de notáveis do mundo, homens e mulheres que lutaram pela liberdade e pela democracia.
E os Estados Unidos eram, para Amílcar, uma espécie de estrela-guia do avanço africano para o futuro, e ele o disse, nas Nações Unidas, em 1972, quando sublinhou que "[Thomas] Jefferson, [Abraham] Lincoln e [Franklin] Roosevelt" eram não apenas "cidadãos imortais dos Estados Unidos", mas também "cidadãos imortais do mundo".
Haverá, portanto, uma ligação profunda, na próxima terça-feira, entre os Estados Unidos, terra de Obama, e Cabo Verde, terra natal de Amílcar Cabral, com o primeiro seguramente capaz de reproduzir, hoje, palavras de Amílcar, proferidas há 36 anos, quando, nos alvores do ano da sua morte, 1973, e dizendo que a hora era "de acção e não de palavras", quis respeitar a tradição, referindo-se à mudança de ano como o tempo "em que todos os seres humanos (
) que querem a paz, a liberdade e a felicidade para todos os homens, renovam as suas esperanças e certeza numa vida melhor para a humanidade, na dignidade, na independência e no progresso verdadeiro de todos os povos".
Amílcar Cabral foi, em África, um pouco do que Martin Luther King -o líder religioso galardoado em 1964 com o Prémio Nobel da Paz pela sua campanha a favor dos direitos cívicos da minoria negra - foi na América.
Ambos tiveram referências históricas, homens e mulheres capazes de resistir e de encorajar outros a marchar. E continuando a adaptar a bela metáfora americana projectada após a eleição de Obama, Amílcar e Luther King marcharam, sim, permitindo que outros pudessem correr. Agora, na corrida de Obama descobre-se que, a seguir, qualquer pessoa, de qualquer raça, credo ou origem social, pode voar, por enquanto talvez só na América, mas um dia, talvez, em todos os pontos do planeta.
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David Borges, DN online, 18-01-2009
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