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Ana começou a usar óculos há seis anos, quando deixou de ver ao perto. Mas nunca se adaptou. A semana passada, aos 53 anos, tornou-se a primeira portuguesa a ser operada para lhe colocarem as chamadas lentes acomodativas. Adeus, óculos!
Chamam-se lentes acomodativas porque, como o nome indica, vão 'flectir' ou acomodar-se para focar objectos a diferentes distâncias, proporcionando uma continuidade de visão perfeita ao perto, a média distância e ao longe. Eduardo Fernandes, director do Serviço de Oftalmologia do Hospital Cuf Infante Santo, foi o primeiro especialista a implantar esta lente em Portugal.
Segundo o oftalmologista, a nova lente tem o movimento dentro do olho semelhante ao movimento natural do cristalino, que é a nossa lente natural e que vai perdendo essa função a partir dos 40 anos. É por ela que passam todas as imagens que captamos na retina, tendo por função focar objectos a diferentes distâncias. Ou seja, ao longe distende, ao perto retrai.
Desenvolvida nos EUA, onde a lente está a ser testada já há alguns anos, chega agora à Europa e a Portugal para resolver o problema de todos os que odeiam óculos. "A lente acomodativa adapta-se a qualquer graduação, quer se trate de miopia, hipermetropia ou presbiopia (dificuldade em ver ao perto). Só não corrige o astigmatismo", informa o médico para acrescentar que se trata de uma técnica de substituição do cristalino, ou seja, uma variante da cirurgia para as cataratas testadíssima há vários anos.
O procedimento correcto é, segundo o médico, operar um olho e 15 dias depois repetir o processo no outro olho. "Aguarda-se um mês e só nessa altura é que se avalia se o doente tem ou não necessidade de fazer a correcção do astigmatismo com laser". A colocação de cada lente custa cerca de 3 mil euros, um valor que os hospitais públicos não vão poder suportar nos próximos anos, já que o seu preço é dez vezes mais que o da lente monofocal para a catarata.
Num país onde há uma extensa lista de espera para operar cataratas, em que alguns desses doentes já não vêem, não faz sentido colocar à frente pessoas que vêem, mas como não gostam de usar óculos querem ser operadas. "É um patamar de bem-estar acima da nossa realidade", frisa Eduardo Fernandes.
Cinco dias depois da operação, Ana A. falou ao Expresso. "Quando tive conhecimento desta técnica não hesitei, mesmo sabendo que era a primeira pessoa a fazê-lo", conta.
Radiante com o resultado, Ana garante que já consegue ler sem óculos e também já tem uma boa visão ao longe. "Não tive uma única dor e a intervenção em si, feita com anestesia local com umas gotas, não causa nenhum sofrimento. Uma hora depois da operação, fui para casa pelo meu pé. Agora estou desejosa de operar o outro olho já para a semana", desabafa.
Para tranquilizar a paciente, o representante da Crystalens para a Península Ibérica fez questão de acompanhar a doente e a cirurgia para lhe garantir que esta técnica não envolve risco. "O pior que podia acontecer era não ver bem ao perto, e aí teria de continuar a usar óculos, mas nunca há o risco de deixar de ver", reafirma o médico.
As outras lentes
Antes das lentes acomodativas, os médicos portugueses há muito que colocam lentes monofocais e multifocais. As primeiras são concebidas para proporcionar melhor visão a uma determinada distância, normalmente ao longe. O principal inconveniente é o doente ter de usar óculos para ver ao perto.
Antes das lentes acomodativas, os médicos portugueses há muito que colocam lentes monofocais e multifocais. As primeiras são concebidas para proporcionar melhor visão a uma determinada distância, normalmente ao longe. O principal inconveniente é o doente ter de usar óculos para ver ao perto.
Já as lentes multifocais utilizam múltiplas zonas de visão integradas na própria lente para proporcionar visão a várias distâncias. Podem comparar-se aos círculos de um alvo, com alguns deles dedicados à visão ao longe e outros à visão ao perto, como se a pessoa tivesse lentes bifocais ou trifocais dentro do olho. Alguns pacientes sentem dificuldade em adaptar-se. Além disso, a visão intermédia (à distância do braço) pode ficar comprometida, pois esta tecnologia aplica-se essencialmente à visão ao perto e ao longe e exclui a visão intermédia.
Com o aparecimento da nova lente, tudo indica que o espectro das várias necessidades fica completo mas é o próprio médico que faz questão de sublinhar que não há técnicas perfeitas. "A qualidade da visão não é perfeita", e é por isso que não as recomenda a uma pessoa que precise de usar a visão a 100%, como um relojoeiro. Mas se pensarmos que 100 por cento da população acima dos 50 anos precisa de usar óculos é uma invenção muito bem-vinda.
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in Expresso online, 19-01-2009
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