Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Lentes acomodativas: Adeus, óculos!

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Ana começou a usar óculos há seis anos, quando deixou de ver ao perto. Mas nunca se adaptou. A semana passada, aos 53 anos, tornou-se a primeira portuguesa a ser operada para lhe colocarem as chamadas lentes acomodativas. Adeus, óculos!

Chamam-se lentes acomodativas porque, como o nome indica, vão 'flectir' ou acomodar-se para focar objectos a diferentes distâncias, proporcionando uma continuidade de visão perfeita ao perto, a média distância e ao longe. Eduardo Fernandes, director do Serviço de Oftalmologia do Hospital Cuf Infante Santo, foi o primeiro especialista a implantar esta lente em Portugal.

Segundo o oftalmologista, a nova lente tem o movimento dentro do olho semelhante ao movimento natural do cristalino, que é a nossa lente natural e que vai perdendo essa função a partir dos 40 anos. É por ela que passam todas as imagens que captamos na retina, tendo por função focar objectos a diferentes distâncias. Ou seja, ao longe distende, ao perto retrai.

Desenvolvida nos EUA, onde a lente está a ser testada já há alguns anos, chega agora à Europa e a Portugal para resolver o problema de todos os que odeiam óculos. "A lente acomodativa adapta-se a qualquer graduação, quer se trate de miopia, hipermetropia ou presbiopia (dificuldade em ver ao perto). Só não corrige o astigmatismo", informa o médico para acrescentar que se trata de uma técnica de substituição do cristalino, ou seja, uma variante da cirurgia para as cataratas testadíssima há vários anos.

O procedimento correcto é, segundo o médico, operar um olho e 15 dias depois repetir o processo no outro olho. "Aguarda-se um mês e só nessa altura é que se avalia se o doente tem ou não necessidade de fazer a correcção do astigmatismo com laser". A colocação de cada lente custa cerca de 3 mil euros, um valor que os hospitais públicos não vão poder suportar nos próximos anos, já que o seu preço é dez vezes mais que o da lente monofocal para a catarata.

Num país onde há uma extensa lista de espera para operar cataratas, em que alguns desses doentes já não vêem, não faz sentido colocar à frente pessoas que vêem, mas como não gostam de usar óculos querem ser operadas. "É um patamar de bem-estar acima da nossa realidade", frisa Eduardo Fernandes.

Cinco dias depois da operação, Ana A. falou ao Expresso. "Quando tive conhecimento desta técnica não hesitei, mesmo sabendo que era a primeira pessoa a fazê-lo", conta.

Radiante com o resultado, Ana garante que já consegue ler sem óculos e também já tem uma boa visão ao longe. "Não tive uma única dor e a intervenção em si, feita com anestesia local com umas gotas, não causa nenhum sofrimento. Uma hora depois da operação, fui para casa pelo meu pé. Agora estou desejosa de operar o outro olho já para a semana", desabafa.

Para tranquilizar a paciente, o representante da Crystalens para a Península Ibérica fez questão de acompanhar a doente e a cirurgia para lhe garantir que esta técnica não envolve risco. "O pior que podia acontecer era não ver bem ao perto, e aí teria de continuar a usar óculos, mas nunca há o risco de deixar de ver", reafirma o médico.
As outras lentes
Antes das lentes acomodativas, os médicos portugueses há muito que colocam lentes monofocais e multifocais. As primeiras são concebidas para proporcionar melhor visão a uma determinada distância, normalmente ao longe. O principal inconveniente é o doente ter de usar óculos para ver ao perto.

Já as lentes multifocais utilizam múltiplas zonas de visão integradas na própria lente para proporcionar visão a várias distâncias. Podem comparar-se aos círculos de um alvo, com alguns deles dedicados à visão ao longe e outros à visão ao perto, como se a pessoa tivesse lentes bifocais ou trifocais dentro do olho. Alguns pacientes sentem dificuldade em adaptar-se. Além disso, a visão intermédia (à distância do braço) pode ficar comprometida, pois esta tecnologia aplica-se essencialmente à visão ao perto e ao longe e exclui a visão intermédia.

Com o aparecimento da nova lente, tudo indica que o espectro das várias necessidades fica completo mas é o próprio médico que faz questão de sublinhar que não há técnicas perfeitas. "A qualidade da visão não é perfeita", e é por isso que não as recomenda a uma pessoa que precise de usar a visão a 100%, como um relojoeiro. Mas se pensarmos que 100 por cento da população acima dos 50 anos precisa de usar óculos é uma invenção muito bem-vinda.
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in Expresso online, 19-01-2009

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.