«Avô materno entregou-se à GNR depois de cometer o crime durante visita ordenada pelo tribunal
Um advogado, de 35 anos, do Porto, foi assassinado com cinco tiros, à frente da sua filha, de quatro anos, pelo pai da mãe da menina. A vítima visitava a criança segundo as regras de um acordo de regulação do poder paternal, ontem, sábado, em Mamarrosa, Oliveira do Bairro.
Cláudio Humberto do Rio Mendes parou o carro junto ao Parque do Rio Novo, o local designado para esta visita à filha, segundo o acordo de regulação de poder paternal decidido pelo tribunal no início de Janeiro, após um processo atribulado com a mãe da criança, uma juíza. Vários incumprimentos do acordo paternal agravaram as divergências existentes entre Cláudio e a mãe da menor. E alguns deles terão chegado a tribunal. A tensão entre o advogado e a família da juíza era permanente, ao ponto de o advogado ter recorrido à GNR, em ocasiões anteriores, para poder ver a filha.
A visita desta semana tinha outra razão especial. Cláudio deveria apresentar à filha a namorada, que está gravida de seis meses. Mas tudo começou mal, contaram testemunhas ao JN. À espera do advogado, às 11 horas marcadas, estavam o pai, a mãe, uma tia e uma sobrinha da juíza, para além desta última e a criança.
Ainda junto ao carro, gerou-se uma discussão entre a tia-avó da menina e Cláudio. O pai da juíza - António Ferreira da Silva, 65 anos, engenheiro agrónomo reformado - sacou da pistola que quase sempre o acompanha e, a cerca de um metro, disparou para o peito de Cláudio. Atirou mais quatro vezes. Todo o crime foi filmado pela sobrinha de Cláudio Mendes. A gravação já está em poder da Polícia Judiciária de Aveiro.
"Telefonou ao irmão de Cláudio"
"Inicialmente não compreendi muito bem o que se estava a passar. Ainda lhe perguntei se a arma seria de brincar, mas ele disparou. Logo de seguida, mais quatro tiros quando o meu namorado estava de costas", conta ao JN a namorada de Cláudio, que estava a poucos metros.
A mulher diz que "o avô da criança agiu com toda a frieza, crueldade e com premeditação, já que ninguém vai para um parque com um revólver carregado". "Ele ainda teve coragem de telefonar ao irmão do Cláudio e de lhe dizer: 'Olha, tenho uma notícia triste para ter dar, acabei de matar o teu irmão'". A juíza e todos os familiares abandonaram o local e a vítima. Pouco tempo depois, acompanhado pela magistrada, Ferreira da Silva entregava-se no posto da GNR de Bustos.
Vizinha anotou matrículas
Susana Pato, que mora em frente ao parque, conta que ouviu alguém a falar mais alto. Pensou que fossem crianças a brincar. "Pouco tempo depois ouvi um disparo, mais outros quatro seguidos e pessoas a gritar por ajuda. Foi aí que me apercebi e chamei a GNR e o INEM. Quando vim cá fora deparei-me com duas mulheres e um corpo no chão. Ainda tive tempo de retirar o número das matrículas dos carros que, entretanto, saíram do local".
António Sousa, amigo da vítima, explicou que no primeiro encontro, há 15 dias, a criança estava acompanhada por oito familiares. "Hoje [ontem] eram seis. Só sei que o Cláudio era louco pela filha e isso via-se no que escrevia no Facebook. Ele morreu por amor à filha". »
in JN online, 06-02-2011
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