Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O ódio de Louçã, e o PCP dos pequeninos



I. É das coisas mais difíceis de explicar a um estrangeiro: por que razão Portugal tem um governo minoritário? Por que razão não há uma coligação entre os partidos da esquerda? Por que razão ainda não existiu uma aproximação PS/BE? É difícil explicar, porque ninguém acredita que o nosso parlamento tem cerca de 17% de leninistas e trotskistas. Em 2011. Eu também não acreditava. Mas o problema está mesmo aí: o nosso regime tem este bloqueio político (não há coligações à esquerda), porque a extrema-esquerda nunca deixou de ser extrema-esquerda. A nossa extrema-esquerda, que vive mentalmente no PREC, não soube ou não quis evoluir de extrema-esquerda para esquerda libertária. E o principal culpado por esta situação é o BE. Ou melhor, o principal culpado é o absurdo radicalismo de Louçã que não permitiu esta evolução europeia do BE . Louçã criou uma espécie de PCP trotskista para concorrer com o PCP leninista.

II. Na Alemanha, "Os Verdes" ocupam o espaço do BE, e representam aquilo que, de forma lata, pode ser apelidado de esquerda libertária: é a esquerda da libertação em relação à velha moral, a esquerda anti-Igreja, a esquerda que não quer o Estado a tutelar as relações entre pessoas, donde a defesa do casamento gay, etc. É também a esquerda da defesa dos golfinhos. É, no fundo, a esquerda moderninha que existe em qualquer país ocidental. Ora, estes "Os Verdes" germânicos encontraram plataformas de diálogo com o SPD, e foram parceiros de coligação. É normal. É assim em democracia.

III. E nós? Nada. O BE tinha todas as condições para ser o parceiro de coligação do PS, mas recusou a evolução para a esquerda libertária. Através do trostskista Louçã, o BE tem apenas lutado pela manutenção do bloqueio histórico herdado do PREC. Por causa da rigidez de Louçã, nós ainda continuamos presos aos efeitos de 1975/76. É por isso que eu digo o seguinte: a maioria dos votantes do BE é libertária, mas não sabe que está a votar num PCP dos pequeninos. Os votantes do BE pensam que estão a votar numa coisa cool e moderna, mas estão, na verdade, a legitimar um parque jurássico: a luta entre o PSR (trotskista; a base de Louçã) e o PCP (leninista).

IV. Para a semana, irei analisar entrevistas antigas de Louçã (basta 2009) . Nessas entrevistas, é visível uma coisa: Louçã precisa do ódio contra o inimigo interno, a direita, essa coisa que - segundo ele - começa dentro do PS. Louçã não aceita qualquer compromisso ou diálogo, porque precisa desse ódio, dessa obsessão pelo inimigo. Louçã vem directamente do país do ódio.


Texto de Henrique Raposo in Expresso online, 11-02-2011


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