PCP: uma "Maria" vai com todos?
O PCP é o principal aliado do PSD. Quem diria? Jerónimo de Sousa convidou Passos Coelho para ser primeiro-ministro!
1. O Partido Comunista português é um partido muito, muito estranho. Se tivesse uma sessão de psicanálise coletiva, não lhe faria mal nenhum. Então, não é que Jerónimo de Sousa admitiu, em entrevista a uma rádio nacional, que o PCP viabilizará uma moção de censura apresentada - imagine só! - pelo ... PSD? Não, não estou a delirar: é pura verdade! Os comunistas encontraram o seu aliado preferencial... o PSD! Na prática, Jerónimo de Sousa convidou Passos Coelho para ser primeiro-ministro! Digam lá se não é bonito e romântico este nosso Portugal!
- A dança de Jerónimo para fazer a direita chegar ao poder. Já se canta no PCP: Passos Coelho avança com toda a confiança! -
2. Qual é, então, o objetivo de Jerónimo de Sousa? São três. A saber:
2.1. Demarcar-se claramente do PS. Encostar o Partido Socialista à direita, associando-o ao PSD, afirmando que são a mesma coisa. Pretende, pois, assim ganhar espaço à esquerda à custa dos socialistas - já a pensar nas legislativas. O raciocínio é este: o governo já é um "morto-vivo", mais morto do que vivo. Vai cair de qualquer maneira: logo, o melhor é distanciarmo-nos o mais possível, desde já, do PS, ganhando força eleitoral. Nem que seja preciso atacar à força toda o Governo José Sócrates, precipitando a sua queda. Nem que seja preciso empurrar a direita para o poder. Há que admitir que Jerónimo de Sousa é lúcido na análise: a dúvida já não é entre segurar o PS ou deixá-lo cair, mas sim quando é que ele cai. Por conseguinte, mais vale manter a devida distância em relação ao morto. É uma tática interessante e compreensível: ah, e como é bom, ver o partido das grandes causas dos trabalhadores, das ideologias ortodoxas, do marxismo-leninismo, da Festa do "Avante!", da luta de classes... meter a lengalenga ideológica num "saco" (ou numa gaveta!) e apoiar objetivamente Passos Coelho e Paulo Portas. Que posso dizer? Estou emocionado com tal demonstração de confiança dos comunistas portugueses na direita portuguesa...O mundo é tão bonito!
2.2. Demarcar-se do Bloco de Esquerda. Note-se que a estratégia de Francisco Louçã consiste em provocar a divisão do PS, apelando a uma (muita apagada e esquecida) ala esquerda do PS. O PCP percebeu o filme e antecipou o final. Quer dizer: Jerónimo de Sousa começou por criticar o Bloco de Esquerda, colando-o ao PS, na sequência do apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre; agora, assume-se como a verdadeira alternativa à esquerda, colocando o BE entre a espada e a parede. A impor uma clarificação do posicionamento político imediato deste partido, sabendo que um passo em falso do BE poderá ser a sua morte. Para os comunistas, não existe esquerda - existem eles próprios e chega.
2.3. O PCP quer a direita no poder. Por uma razão muito simples: é mais fácil organizar grandes manifestações, grandes contestações quando o país é governado pela direita do que - apesar de tudo - quando se trata de um Governo socialista. O PCP começa a ficar preocupado com a perda da sua força para outros movimentos, para outra esquerda folclórica - e sabe que a única forma de criar um novo dinamismo, uma nova força é criar uma ampla frente de "luta" ao governo, trazendo gente que não é próxima do partido, mas se identifica com a esquerda, liderando-a. Depois das eleições, já todos sabemos o que irá acontecer: o PCP - qual Pilatos! - vai lavar as mãos, afastando as suas responsabilidades na subida da direita ao poder - ao mesmo tempo com que dirá que provocou uma vitória da esquerda, esperando que aumente o seu próprio performance eleitoral. Há muito tempo que o PCP é a "Maria" vai com todos da política nacional. Confirma-se, mais uma vez. Não sei se, caso os comunistas precisassem de apoiar a extrema-direita, não o fariam também...Enfim, contradições que a estratégia político-partidária vai tecendo...
Texto e imagens in Expresso online, 07-02-2011
Título do post de Zorate
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