Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Jerónimo de Sousa, o grande obreiro do sonho de Sá Carneiro: Uma maioria, um Governo, um Presidente


PCP: uma "Maria" vai com todos?



O PCP é o principal aliado do PSD. Quem diria? Jerónimo de Sousa convidou Passos Coelho para ser primeiro-ministro!


1. O Partido Comunista português é um partido muito, muito estranho. Se tivesse uma sessão de psicanálise coletiva, não lhe faria mal nenhum. Então, não é que Jerónimo de Sousa admitiu, em entrevista a uma rádio nacional, que o PCP viabilizará uma moção de censura apresentada - imagine só! - pelo ... PSD? Não, não estou a delirar: é pura verdade! Os comunistas encontraram o seu aliado preferencial... o PSD! Na prática, Jerónimo de Sousa convidou Passos Coelho para ser primeiro-ministro! Digam lá se não é bonito e romântico este nosso Portugal!



- A dança de Jerónimo para fazer a direita chegar ao poder. Já se  canta no PCP: Passos Coelho avança com toda a confiança! -


2. Qual é, então, o objetivo de Jerónimo de Sousa? São três. A saber:

2.1. Demarcar-se claramente do PS. Encostar o Partido Socialista à direita, associando-o ao PSD, afirmando que são a mesma coisa. Pretende, pois, assim ganhar espaço à esquerda à custa dos socialistas - já a pensar nas legislativas. O raciocínio é este: o governo já é um "morto-vivo", mais morto do que vivo. Vai cair de qualquer maneira: logo, o melhor é distanciarmo-nos o mais possível, desde já, do PS, ganhando força eleitoral. Nem que seja preciso atacar à força toda o Governo José Sócrates, precipitando a sua queda. Nem que seja preciso empurrar a direita para o poder. Há que admitir que Jerónimo de Sousa é lúcido na análise: a dúvida já não é entre segurar o PS ou deixá-lo cair, mas sim quando é que ele cai. Por conseguinte, mais vale manter a devida distância em relação ao morto. É uma tática interessante e compreensível: ah, e como é bom, ver o partido das grandes causas dos trabalhadores, das ideologias ortodoxas, do marxismo-leninismo, da Festa do "Avante!", da luta de classes... meter a lengalenga ideológica num "saco" (ou numa gaveta!) e apoiar objetivamente Passos Coelho e Paulo Portas. Que posso dizer? Estou emocionado com tal demonstração de confiança dos comunistas portugueses na direita portuguesa...O mundo é tão bonito!

2.2. Demarcar-se do Bloco de Esquerda. Note-se que a estratégia de Francisco Louçã consiste em provocar a divisão do PS, apelando a uma (muita apagada e esquecida) ala esquerda do PS. O PCP percebeu o filme e antecipou o final. Quer dizer: Jerónimo de Sousa começou por criticar o Bloco de Esquerda, colando-o ao PS, na sequência do apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre; agora, assume-se como a verdadeira alternativa à esquerda, colocando o BE entre a espada e a parede. A impor uma clarificação do posicionamento político imediato deste partido, sabendo que um passo em falso do BE poderá ser a sua morte. Para os comunistas, não existe esquerda - existem eles próprios e chega.

2.3. O PCP quer a direita no poder. Por uma razão muito simples: é mais fácil organizar grandes manifestações, grandes contestações quando o país é governado pela direita do que - apesar de tudo - quando se trata de um Governo socialista. O PCP começa a ficar preocupado com a perda da sua força para outros movimentos, para outra esquerda folclórica - e sabe que a única forma de criar um novo dinamismo, uma nova força é criar uma ampla frente de "luta" ao governo, trazendo gente que não é próxima do partido, mas se identifica com a esquerda, liderando-a. Depois das eleições, já todos sabemos o que irá acontecer: o PCP - qual Pilatos! - vai lavar as mãos, afastando as suas responsabilidades na subida da direita ao poder - ao mesmo tempo com que dirá que provocou uma vitória da esquerda, esperando que aumente o seu próprio performance eleitoral. Há muito tempo que o PCP é a "Maria" vai com todos da política nacional. Confirma-se, mais uma vez. Não sei se, caso os comunistas precisassem de apoiar a extrema-direita, não o fariam também...Enfim, contradições que a estratégia político-partidária vai tecendo...

 
Texto e imagens in Expresso online, 07-02-2011
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