Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sábado, 20 de abril de 2024

A CARALHOTA de Almeirim


A “Caralhota de Almeirim” é um pequeno pão com um diâmetro médio de 15 cm, de forma arredondada, côdea quebradiça e estaladiça, de tonalidade acastanhada, e miolo rústico, com olhos pequenos a médios.
O pão é amassado e obtido através de métodos típicos da região de Almeirim, Santarém.
As matérias-primas utilizadas no fabrico da “Caralhota de Almeirim” são: Farinha de trigo de tipo 55 ou tipo 65 ou similar; fermento de padeiro e/ou “Pão acrescentado”, ou seja, massa que ficou de véspera a levedar (cerca de 1% por cada 100 kg de farinha); água (50-65% por cada 100 kg de farinha) e sal (1,5% por cada 100 kg de farinha).
A produção “Caralhota de Almeirim” passa pela mistura dos ingredientes e amassadura, depois a massa é levedada e por fim a “Caralhota de Almeirim” é cozida em forno, geralmente no forno tradicional a lenha.
O nome “Caralhota” é como se chama ao borboto das camisolas de lã, na região de Almeirim.
A história deste pão, segundo o transmitido oralmente de geração em geração, é a seguinte: “Havia uma velhinha que estava a cozer pão e a filha raspou o alguidar de barro e fez uma bolinha com os restos.
Quando a senhora perguntou o que ela estava a fazer, respondeu: ‘Uma caralhota, mãe!’ E ficou assim".

A produção da “Caralhota de Almeirim” está circunscrita ao concelho de Almeirim.
A “Caralhota de Almeirim”, segundo relatos dos historiadores do concelho, deverá ter surgido entre o século XIX e princípios do século XX.
Numa zona rural, com poucos recursos, era em casa que se cozia o pão para dar de comer à família.
Era cozido uma vez por semana e guardado em sacos de pano, para ser comido ao longo da semana.



 

“Deus te acrescente que és para muita gente”, assim dizia a padeira, nos momentos da levedura e da cozedura, para trazer a boa sorte e garantir que o pão crescia.
Dizeres populares que ainda hoje são ditos e fazem parte de um património oral muito particular da região de Almeirim.
Conta o historiador Dr. Eurico Henriques: “Agarrados ao alguidar (porque era pouco, faziam-se em pequenas quantidades) ficavam pedaços de massa e nada podia ser desperdiçado.
A partir desses restos eram feitas bolas que eram, depois, cozidas.
A “Caralhota” aparece como uma forma de não desperdiçar o produto com que se está a trabalhar, porque custa muito.
O pão foi Deus que deu.”
Em Almeirim, a tradição da Caralhota, pequeno pão feito a partir do aproveitamento dos restos, vem, assim, de longe.
E surge ligada às necessidades do povo.
A fama da “Caralhota de Almeirim” deu-se com o progresso da restauração em Almeirim, terra de tradições gastronómicas bem arreigadas.
O pão mais pequeno é um acompanhamento que complementa a também afamada “Sopa da Pedra” e foram os restaurantes que começaram a fazer o próprio pão e a apresentá-lo como parte deste prato tradicional.
Nas padarias ou na restauração, são muitos aqueles que, em Almeirim, se esforçam por manter viva a chama do forno a lenha.
E por garantir que a Caralhota continua a ser imagem de marca da terra.





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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.