O seu pai era Carlos Augusto de Sá-Carneiro, e a sua mãe
Águeda Maria de Sousa Peres Marinello, ambos naturais de Lisboa.
Órfão de mãe com
apenas dois anos (1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para
a Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, às portas de Lisboa,
aí passando grande parte da infância.
Começa a escrever poesia aos 12 anos, sendo que aos 15 já
traduzia Victor Hugo e com 16 Goethe e Schiller.
No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como
ator.
Em 1911, com 21 anos, vai para Coimbra, onde se
matrícula na Faculdade de Direito, mas não conclui sequer o primeiro ano.
Desiludido com a “cidade dos estudantes”, segue
para Paris a fim de prosseguir os estudos superiores, com o auxílio
financeiro do pai.
Cedo, porém, deixou de frequentar as aulas na Sorbonne,
dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espetáculo,
chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que
culminou na ligação emocional a uma prostituta, a fim de combater as suas
frustrações e desesperos.
Sá-Carneiro conhecera em 1912 aquele que foi, sem
dúvida, o seu melhor amigo: Fernando Pessoa.
Já na capital francesa viria a conhecer Guilherme de
Santa-Rita (Santa-Rita Pintor).
Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste
ambiente que compôs grande parte da sua obra poética e a correspondência com o
seu confidente Fernando Pessoa; é, pois, entre 1912 e 1916 (o
ano da sua morte), que se inscreve a sua fugaz — e no entanto assaz profícua —
carreira literária.
Entre 1913 e 1914 Mário Sá-Carneiro viaja para
Lisboa com uma certa regularidade, regressando à capital, devido à deflagração
do conflito entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, o qual a breve
trecho se tornou uma conflagração à escala europeia — a Primeira
Guerra Mundial.
Com Fernando Pessoa e ainda Almada Negreiros integrou
o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelo cosmopolitismo
e pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade
burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista
literária Orpheu, editada por António Ferro (e que por isso
mesmo ficou sendo conhecido como a Geração d’Orpheu ou Grupo
d’Orpheu), um verdadeiro escândalo literário à época,
motivo pelo qual apenas saíram dois números (Março e Junho de 1915; o
terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo
da chacota social) — ainda que hoje seja, reconhecidamente, um dos marcos
da história da literatura portuguesa, responsável pela agitação do meio
cultural português, bem como pela introdução do Modernismo em Portugal.
Também teve colaboração em diversas publicações periódicas,
nomeadamente no semanário Azulejos (1907–1909); na II série da
revista Alma nova (1915–1918) e na revista Contemporânea (1915–1926),
e pode ainda encontrar-se colaboração da sua autoria, publicada postumamente,
na revista Pirâmide (1959–1960) e Sudoeste (1935).
Em Julho de 1915 regressa a Paris, escrevendo
a Pessoa cartas de uma crescente angústia, das quais ressalta não apenas a
imagem lancinante de um homem perdido no "labirinto de si próprio",
mas também a evolução e maturidade do processo de escrita de Sá-Carneiro.
Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que
idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior
angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro,
perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, com
o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina.
Embora tivesse adiado por alguns dias o dramático desfecho da
sua vida, numa "carta de despedida" para Fernando Pessoa, Mário de
Sá-Carneiro revela as suas razões para se suicidar:
Paris - 31 Março 1916
Meu Querido Amigo.
A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o
seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá
deste mundo. É assim tal e qual — mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo
ridículo que sempre encontrei nas "cartas de despedida"... Não vale a
pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto
sempre quis — e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que
tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei
pelas circunstâncias — ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade
— numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a
única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como
sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da
minha obra — vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros
roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre,
psicologicamente, às mil maravilhas: mas não tenho dinheiro. [...]
Mário de Sá-Carneiro,
carta para Fernando Pessoa.
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