"Uma mulher colombiana de 30 anos tornou-se a primeira pessoa do mundo a receber o transplante de uma traqueia produzida em laboratório com células do seu próprio corpo.
O revolucionário procedimento, que é também o primeiro envolvendo a regeneração de um órgão em laboratório sem que o paciente precise de tomar imunossupressores, foi hoje descrito na edição electrónica do jornal médico britânico 'The Lancet'.
A notícia foi recebida com grande entusiasmo pela comunidade científica e médica, já que representa a demonstração das enormes potencialidades da engenharia de tecidos humanos.
A intervenção foi o resultado de um trabalho conjunto do Hospital Clínico de Barcelona, em Espanha, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, do Politécnico de Milão e da Universidad de Pádua, em Itália.
Para a concretizar, a equipa europeia utilizou uma traqueia de uma mulher de 51 anos, à qual foram removidas todas as células para evitar problemas de rejeição. A traqueia foi depois coberta em laboratório com células de cartilagem cultivadas a partir de células estaminais da própria paciente bem como com células epiteliais (responsáveis pelo revestimento externo dos órgãos) retiradas de uma parte saudável da sua traqueia. Finalmente, o novo órgão foi cortado à medida e usado para substituir o brônquio esquerdo da paciente, que liga a traqueia ao pulmão esquerdo.
Nascida na Colômbia mas a residir em Espanha, Claúdia Castillo foi diagnosticada em 2004 com uma tuberculose que a deixou incapaz de realizar simples tarefas domésticas, como cuidar das duas filhas. A doença provocou um colapso na traqueia, levando a uma obstrução junto ao brônquio esquerdo e impedindo o ar de chegar ao pulmão.
Antes do transplante, havia sido operada mas sem grande sucesso. A nova cirurgia permitiu-lhe salvar o pulmão esquerdo, algo que teria sido impossível sem esta intervenção.
Cinco meses depois do transplante, Castillo encontra-se, segundo os médicos que a estão a acompanhar, "de perfeita saúde". Recuperou alguma autonomia, conseguindo, por exemplo, caminhar meio quilómetro sem necessidade de parar. Além disso, não precisou até ao momento de receber quaisquer imunossupressores, já que o organismo identificou o novo órgão como não sendo estranho.
"A probabilidade de rejeição é praticamente nula. Ela está a desfrutar de uma bela vida, o que para nós, médicos, é o melhor dos presentes", afirmou Paolo Macchiarini, que liderou a equipa de cirurgiões do Hospital Clínico de Barcelona.
O especialista mostrou-se esperançado de que, no futuro, a produção de órgãos resultantes da combinação de biomateriais e células do próprio paciente possa oferecer soluções bem sucedidas para outros problemas clínicos graves.
Fábricas de órgãos
A intervenção veio demonstrar aquilo que há muito se anuncia: graças à engenharia de tecidos humanos, os transplantes, tal como os conhecemos hoje, têm os dias contados. O futuro está em fabricar em laboratório tecidos e órgãos à medida, usando células extraídas do próprio paciente, o que elimina o complexo problema da rejeição.
A intervenção veio demonstrar aquilo que há muito se anuncia: graças à engenharia de tecidos humanos, os transplantes, tal como os conhecemos hoje, têm os dias contados. O futuro está em fabricar em laboratório tecidos e órgãos à medida, usando células extraídas do próprio paciente, o que elimina o complexo problema da rejeição.
Algumas destas possibilidades são já uma realidade. Investigadores do Instituto Wake Forest, nos Estados Unidos, desenvolveram bexigas que estão a ser utilizadas em ensaios clínicos com humanos e estão já a aperfeiçoar outras 'peças' do organismo.
"Estamos a trabalhar com praticamente qualquer tecido e órgão do corpo humano, incluindo osso, músculo, nervo, tendão, vasos sanguíneos, cérebro, pâncreas, fígado e rim", contou ao Expresso Mark Van Dyke, investigador do instituto."
in Expresso online, 19-11-2008
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