"Um homem, de 64 nos, ex-cobrador da Rodoviária Nacional e considerado "o maior dador europeu de sangue", montou a enxerga sob as ruínas de uma estação de serviço na rua Serpa Pinto. Um lugar onde só cabia encolhido.
Viveu assim mais de três meses. Solitário. Sem alarido social. Ninguém diria, ao vê-lo pela manhã, a correr a cidade de um lado para o outro, que tinha passado a noite encolhido num buraco exíguo e fétido, de 1,5 metros quadrados, em cima de cartões e tapado por um cobertor.
Apesar do recato, a presença do sem abrigo na rua de Serpa Pinto, no que resta da estação de serviço que funcionou nas proximidades do antigo matadouro - um cubículo e, ao lado, uma retrete com uma sanita, não passou despercebida a uma moradora.
O caso foi comunicado a Carlos Vieira, responsável pelo Núcleo de Viseu da "Olho Vivo - Associação para a Defesa do Património, Ambiente e Direitos Humanos", que se pôs em campo no sentido de ajudar o homem.
Conduzido à Cáritas Paroquial de Santa Maria, Joaquim Dionísio passou a tomar ali as suas refeições, beneficiando ainda de banho duas vezes por semana. Só não conseguiu uma cama para dormir, porque o Centro de Acolhimento Temporário, com sete camas, "estava completamente lotado". Agora, que já recebeu o Rendimento Social de Inserção, arrendou um quarto digno para dormir e viver.
"Num cenário de agravamento da crise económica e de desemprego, é de prever que casos como este se multipliquem. E é grave que o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social não ofereça condições para os enquadrar. Justificações de lotação esgotada, quando se fala em pessoas sem abrigo, não fazem qualquer sentido", critica o dirigente da "Olho Vivo". "
in JN online, 19-11-2008
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