Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Apelação (Loures): Cânticos de paz onde antes ecoaram tiros...


"Mais de cem pessoas marcharam pela paz nas ruas da Apelação, em Loures. A iniciativa foi organizada pela Igreja Kimbanguista - que tem sede nacional na Quinta da Fonte - com o apoio de outras associações do bairro.

O ponto de partida foi o largo fronteiro à sala de culto da Igreja Kimbanguista, na Quinta da Fonte, praticamente o mesmo sítio onde, há cerca de seis meses, as televisões "assentaram arraiais" para transmitir o rescaldo dos tiroteios em plena via pública. "Onde houve imagens de tiros e confusão, queremos passar imagens de alegria e festa", explica o reverendo Paulo Zau Neto, da Igreja Kimbanguista.

Nos seus trajes coloridos, dominados pelo verde e pelo branco, os kimbanguistas animaram a marcha, enchendo as ruas por onde passaram - primeiro na Quinta da Fonte, depois no centro da Apelação - com o som da fanfarra e cânticos de festa. Muitas pessoas assomavam às janelas das grandes torres amarelas da Quinta da Fonte. Algumas limitavam-se a seguir o cortejo durante breves momentos com indiferença. Outras associavam-se à festa com sorrisos ou palmas.

A festa prosseguiu com um momento religioso, pontuado por momentos simbólicos como a libertação de pombas por crianças ciganas, negras e brancas e terminou com um convívio de partilha gastronómica.

Luís Cardoso, membro da Associação de Moradores da Quinta da Fonte, registada na semana que passou, disse que "muita coisa está a mudar e vai continuar a mudar" no bairro. Uma mudança que deve ser feita a partir de dentro, segundo Félix Bolaños, presidente do agrupamento de Escolas da Apelação. "Para resolver os nossos problemas, estamos cá nós. O que precisamos é de amigos que nos ajudem a isso", diz.

Entre os amigos "externos", a governadora-civil de Lisboa, Dalila Araújo, que passou pelo evento e destacou os "princípios da paz, solidariedade e concórdia" que nortearam a marcha. A responsável manifestou "uma grande esperança no futuro" e deixou o desejo de que, dentro em breve, "as pessoas digam que são da Quinta da Fonte com orgulho".

Apesar dos esforços dos responsáveis para unir todas as etnias do bairro, entre os mais de cem participantes quase não havia ciganos. Na opinião de Paulo Jorge, 31 anos, a fraca adesão desta comunidade à marcha deveu-se apenas ao facto de que "as pessoas estarem ocupadas a preparar as festas de Natal", que, para aquela etnia começam já amanhã.

A maior lição de união acabou por vir das crianças do ATL da Apelação, de várias etnias, que, em conjunto, entoaram cânticos de Natal perante os participantes na marcha pela paz."
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in JN online, 21-12-2008

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.