"Desde o 25 de Abril de 1974 que o Ministério da Educação foi fogueira que queimou todos os ministros que procuravam fazer da melhor maneira o cumprimento político do programa do seu governo. Uns, contam-se por meses o tempo de exercício, sendo que, foram poucos, muito poucos aqueles que levaram o mandato ao fim.
Foram nomeadas figuras de grande prestígio cultural, intelectual, científico, político e conhecedores do ramo educacional e quase todos saíram remodelados. Isto para lembrar a grande dificuldade política e o desgaste pessoal que "mora" na Av. 5 de Outubro. Quer professores, alunos, pessoal administrativo e auxiliar quer organizações sindicais desencadearam sempre lutas enormes aos titulares da pasta da educação.
Agora, é a vez da ministra Maria de Lurdes Rodrigues ser o alvo dos sindicatos dos professores, com o pretexto da não aceitação "desta avaliação". Ora, vejamos algumas das medidas, que de momento me ocorrem, tomadas pela senhora ministra:
1. Encerramento de um número considerável de escolas, designadamente as que tinham menos de 10 alunos;
2. Prolongamento do horário escolar no 1.º ciclo, com introdução de aulas de Inglês, Educação Musical e Educação Física;
3. Concurso plurianual de professores (dando mais estabilidade ao corpo docente nas escolas);
4. Aulas de substituição. (Constata-se, hoje, haver mais assiduidade dos professores);
5. Novas regras de gestão das escolas;
6. Redução do número de professores a exercerem funções sindicais em benefício da actividade lectiva;
7. Gratuidade nas refeições aos alunos e mais apoio social às famílias para aquisição de livros. (procurando combater o abandono escolar);
8. Novo Estatuto do Aluno;
9. Novo Estatuto da carreira docente;
10. Finalmente, a avaliação dos professores.
Chegados aqui, e admitindo até alguns erros de estratégia política, a senhora ministra está submetida a ataques cruzados. De um lado, professores e sindicatos. Do outro, os partidos da Oposição. A CGTP e o PCP alimentam a agitação das "massas" com um calendário previamente acertado. O BE cavalga a onda do descontentamento do pessoal docente, vendo aqui oportunidade para possíveis ganhos eleitorais, em particular nos grandes centros urbanos.
O CDS e o PSD vêem a possibilidade do desprestígio da escola pública para assim poder tecer loas à escola privada. Claro que a intervenção da senhora ministra no comício do PS em Guimarães, quanto a mim bem, também leva os partidos da Oposição a serem ainda mais cáusticos.
Em todo este contexto político, em que se pretende a valorização da escola pública e, depois de tantas horas de reuniões, negociações e encontros em que o Ministério aceitou sugestões para desburocratizar o modelo de avaliação, verifica-se que do lado da plataforma sindical continua a haver um radicalismo inaceitável que bate apenas numa tecla: suspensão da avaliação. A ministra, com coragem, determinação e capacidade negocial demonstrada, só tem um caminho. Esse caminho é o de avançar com o processo. Depois de tudo o que se passou, se a avaliação fosse suspensa, seria a gargalhada geral e o descrédito de uma política que está a mudar a Educação em Portugal."
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Agostinho Gonçalves, Professor do Ensino Secundário, Deputado do PS, opinião no JN online, 20-12-2008
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