Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A derrota de Pacheco...


"Pedro Santana Lopes vai mesmo ser o candidato do PSD a Lisboa. Ao fim de um par de meses em que o próprio se anunciou disponível e a distrital de Lisboa o votou como candidato perante o silêncio ostensivo de Ferreira Leite, a improvável - inacreditável, não se desse o caso de ter sucedido - possibilidade passou a facto. Sobre o que isto diz de Santana (e do que Santana acha de si) mais o que diz de Ferreira Leite e do PSD começa a ser penoso falar, a não ser para concluir que todos estão a fazer, com grande competência e dedicação, o que é suposto para entregar, mais tarde ou mais cedo, a direcção do partido ao até agora ardilosamente sensato Passos Coelho.
Interessante mesmo é analisar a situação do ponto de vista do mais notório estratego de Ferreira Leite, o mais aparente e aparatoso inimigo dos populismos, das "facilidades" e das "incoerências" de que Santana é o lídimo representante. Não só por Pacheco Pereira (sim, é ele) ter sido, de forma despudorada, deixado cair pela sua dama, numa das mais cruéis traições da política portuguesa recente e em mais um falhanço da sua desastrada carreira partidária, como, sobretudo, por ter mostrado a sua incapacidade, como analista e comentador, de avaliar personalidades, prever percursos e pesar estratégias.
Como pôde Pacheco Pereira enganar-se assim a respeito de alguém que conhece há tantos anos, política e pessoalmente? É Manuela Ferreira Leite uma assim tão boa actriz ou foi Pacheco Pereira que, desejoso de acreditar ter enfim encontrado a criatura perfeita para dirigir o PSD por interposta pessoa, se enganou a si próprio? Certo é que, esgotado o seu prazo de utilidade como propagandista da "seriedade" e "credibilidade", o homem que mais incensou a rectidão da líder, o seu carácter tão tão superior ao dos outros candidatos, as suas tão extraordinárias experiência e visão políticas e lhe guardou a vitória numa terna fotografia de groupie, viu prescindidos os seus serviços. Como ri Menezes, como ri Santana do seu arqui-inimigo. Como ri Passos Coelho, a quem chamou "velho jovem", a quem acusou de ser nada mais que um aparelhista e reduziu a "uma imagem" (e que era a Ferreira Leite das "nobres rugas" nos close-ups da RTP senão uma imagem?).
O homem que ontem dizia, na Quadratura do Círculo da SIC Notícias, ponderar votar em Santarém em vez de em Lisboa para não ter de encarar a hipótese de pôr a cruz em Santana sofreu uma das maiores derrotas da sua dupla condição de político e comentador. Não seguramente a primeira - tem aliás o simbolismo trágico de um prémio de carreira. Um prémio ao contrário, como ao contrário estava o símbolo do PSD nos seus escritos anti-Menezes e anti-Santana. Ao virar de pernas para o ar a seta do partido nesses tempos que julgou esconjurar e que regressaram com o rosto da sua candidata, Pacheco Pereira estava afinal a fazer o auto-retrato. Mas triste triste é que a sua derrota não seja a de um justo que nunca quis sujar as mãos, de um romântico que nunca se fez à intriga. Triste é que ele tenha realmente querido e tentado, e seja mesmo e sobretudo falta de jeito."
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Fernanda Câncio, opinião no DN online, 19-12-2008

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