«Um dia depois de Paulo Portas ter afirmado, em conferência de imprensa, que a sua reeleição como líder reforça o CDS para fazer oposição ao Governo, o partido encolhe em várias frentes: perde um deputado na Assembleia da República, vê desfiliarem-se várias dezenas de militantes e tem um ex-vice-presidente, que era o conselheiro mais importante de Portas, impedido de ir ao congresso apresentar uma alternativa à estratégia oficial.
"Já não acredito na possibilidade de o partido evoluir por dentro. Nisto eu não participo", diz João Luís Mota Campos, um dos militantes que esta tarde vão anunciar em conferência de imprensa as razões porque decidiram desfiliar-se do CDS.
No grupo, que poderá chegar a uma centena, está o único deputado centrista que tinha feito parte da direcção de José Ribeiro e Castro, e única voz desalinhada do grupo parlamentar: José Paulo Carvalho. Destacado dirigente dos movimentos "pró-vida", Carvalho filiou-se no CDS a convite de Paulo Portas, que o incluiu nas listas das legislativas de 2005, e acabou por chegar à direcção do partido com Ribeiro e Castro. A ruptura com Portas e com o "portismo" vem desse período, e da forma como Castro foi derrubado no início de 2007. Agora é a saída do CDS, apesar de José Paulo Carvalho se manter no Parlamento - será deputado não inscrito, como Luísa Mesquita, ex-PCP. Ou seja, o CDS passa a ter apenas 11 deputados.
As razões das demissões
João Luís Mota Campos chegou a secretário de Estado da Justiça indicado pelo CDS, no governo de Durão Barroso, e também foi um dos dirigentes do núcleo-duro de equipa de Castro. Ao Expresso, adiantou as três principais razões para a demissão, após 25 anos como militante do CDS: primeiro, a "impossibilidade de qualquer espécie de debate dentro do CDS. O partido afunilou-se no culto de personalidade de Paulo Portas - ele diz como é e o partido faz".
Um bom exemplo desse estado de coisas, diz Mota Campos, é o que se passou com Nobre Guedes, que por ter divergido de Portas acabou por ser afastado do congresso, não conseguindo sequer ser eleito delegado. "Nobre Guedes acaba de provar o remédio de Paulo Portas, o que é justíssimo. Portas é como o monstro de Frankenstein, e acaba de se revoltar contra o seu criador."
Guedes já anunciou entretanto que vai continuar no CDS, apesar de culpar os dirigentes do partido pela sua não eleição como delegado ao congresso.
A segunda razão para a demissão deste grupo de militantes tem a ver com a "deriva ideológica e doutrinária" da actual direcção. O ex-secretário de Estado da Justiça dá os exemplos da "nova agenda" de Pires de Lima e de Teresa Caeiro, "com o apoio ao casamento homossexual, que não tem nada a ver com um partido democrata-cristão".
Se as duas primeiras razões são a constatação do que se passou ao longo deste ano e meio de liderança de Portas, a terceira tem a ver com a moção de estratégia que este apresentou nas directas, propondo que o CDS se relacione da mesma maneira com o PSD e o PS. "Quando Paulo Portas anuncia um partido disponível para viabilizar um governo de quem quer que seja, isso é pior do que a equidistância de Freitas do Amaral. É um princípio de puro oportunismo político".»
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in Expresso online, 16-12-2008
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