Há bebés que choram durante horas seguidas até a exaustão. São chamados de bebés coléricos e são cada vez mais comuns, garante a psicóloga e terapeuta familiar Cláudia Pires de Lima. O stress dos pais é uma das explicações para este aumento.
"São capazes de chorar a maior parte do dia. Há casos em que choram mais de doze horas, o que é exaustivo não só para o bebé, mas também para os pais", diz a clínica.
Ao fim de um tempo a chorar, a respiração acelera, o corpo fica rígido e este mal-estar físico é mais uma razão para o choro se prolongar durante horas.
Segundo a terapeuta, quando são confrontados com esta situação, os pais passam por um "período de susto".
O primeiro passo é procurar o pediatra para garantir que o bebé não está doente. No entanto, Cláudia Pires de Lima, diz que o problema do choro compulsivo dos mais pequenos ainda é muitas vezes desvalorizado pelos médicos portugueses.
A verdade é que é uma das situações que mais leva os pais aos hospitais e consultórios: "O choro dos bebés é, de facto, uma das razões que leva mais pais às urgências e aos pediatras" confirma a enfermeira Marília Pereira, especialista em saúde materna.
E há bebés que choram sem razão aparente. "Embora a tendência seja para atribuir cólicas, não há realmente uma causa", conclui a profissional de saúde.
Provocado pela ansiedade
Factores como o stress estão por trás deste aumento, avança Cláudia Pires de Lima. "Por um lado, as mulheres trabalham até mais tarde na gestação e têm mais responsabilidades laborais.
Por outro, a chegada do bebé é um período de adaptação para a família". Cerca de 80% das mães e 15 % dos pais passam por um período de tristeza após o parto.
Assim, o bebé está rodeado de pessoas com muitos factores de ansiedade e isso acaba por ter consequências, defende. "Não estando nada de mal fisicamente, mas havendo esse mal-estar que se traduz no choro". É o truque, diz, é dar" apoio emocional. É isso que se aprende no curso de "Primeiros Socorros Emocionais, do qual Cláudia vai ser formadora.
O projecto foi iniciado na Alemanha, e que passa pela formação de técnicos para lidarem com bebés chorões. Este curso será dado , pela segunda vez, em Portugal já no mês de Fevereiro. "Tentamos dar atenção ao pai, à mãe e ao bebé individualmente e depois trabalhar na ligação entre eles", explica Cláudia Pires de Lima.
Alemanha tem 20% de chorões
A mentora do curso é a terapeuta alemã Paula Diederichs, que já abriu cinco centros para bebés coléricos na Alemanha, onde estima que os recém-nascidos com choros compulsivos e problemas do sono cheguem aos 20%. "A Paula conta-nos que muitas vezes chegam pais que lhe passam logo o bebé para o colo e pedem ajuda porque já nem conseguem ver a criança à frente", diz Cláudia Pires de Lima .
Nos EUA são "bebés sacudidos"
Nos EUA dá-se também muita atenção ao problema, uma vez que é uma das "causas" do síndrome do "bebé sacudido", ou seja, há muitos casos em que o desespero leva os pais a sacudirem a criança com alguma força provocando traumatismos.
"O objectivo do curso é formar os técnicos para que possam prestar apoio emocional a pais", diz a psicóloga e terapeuta, acrescentando que em Portugal esse apoio ainda é escasso depois do parto. A enfermeira Marília Pereira concorda: "O que muitas pessoas pensam que é instinto são aprendizagens que antigamente faziam parte da educação de todas as mulheres" ou que eram transmitidos pela família alargada.
Por isso, é natural que os casais acabem por se sentir um pouco sozinhos e desamparados com a chegada do bebé a casa.
Foto in Google
Texto in DN online, 31-01-2010
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