"Joaquim Isabelinha queixa-se da memória, mas recorda pormenores de uma vida de estudante e de jogador da Académica. A condição física e a ausência de "noitadas" são razões apontadas para ter chegado aos 100 anos.
Gosta muito de História, daquela que "revela a presença de Portugal no mundo", e de livros religiosos. "Já li muitas vezes o livro dos pastorinhos e quando acabo de ler até dou um beijinho", conta.
Joaquim Isabelinha, médico oftalmologista de Santarém, reformado há quatro anos, completou um século de vida na última sexta-feira. Hoje é homenageado, durante um almoço, por centenas de amigos.
Tem uma vida dedicada "a ajudar os mais pobres", que ainda hoje lhe batem à porta. "Gosto muito de ajudar e até deixei de sair, de fazer viagens e coisas assim para ter dinheiro para dar", conta sorrindo, lembrando que "apesar das pernas não estarem muito bem" ainda vai à igreja "dar uma coroazinha ao senhor bispo e ao padre".
Com a ajuda de um pequeno "andarilho", Joaquim Isabelinha continua a sair de casa. "Vou ali ao tico-tico e às vezes pago uns almoços aos pobres".
Viúvo, com um filho também oftalmologista, três netos, dois dos quais a estudar medicina - e uma bisneta que "é um encanto" - o médico reformado gosta de conversar e não esquece pormenores de uma vida "de trabalho", mas também animada pelos muitos amigos que foi tendo.
Recorda os tempos de estudante em Coimbra e das consultas que deu na esquadra da PSP e no posto da GNR na cidade. "Era tudo gratuito. Nunca recebi nada", assegura, revelando que ao longo da sua vida de médico consultou muitos doentes de graça. "Eles não tinham dinheiro, mas não ficavam sem consulta", frisa.
Isabelinha, que reside no centro de Santarém, continua a ser conhecido como o "médico dos pobres". "Ganhava dinheiro com quem podia pagar", diz, explicando que conseguiu fazer a sua "vidinha" juntando todos os tostões.
A sua longevidade, assegura, deve-se ao facto de "nunca ter perdido noites". "Ainda hoje deito-me sempre à hora certa, por volta das 23 horas", conta sorrindo, revelando nunca ter fumado, e ter bebido um copinho de vinho de vez em quando".
A condição física que obteve enquanto jogador de futebol da Académica de Coimbra, é também argumento. Hoje, queixa-se apenas das costas e das pernas que "já estão fracas". Gosta de ler, com a ajuda de uma lupa, e não se sente atraído pela televisão. Homem de sorriso fácil, não dispensa uma boa conversa.
Enaltece as duas senhoras, Graça e Maria, que tomam conta de si, uma há 18 e outra há mais de 24 anos, e diz que ultimamente até aprendeu a cantar. Coloca um sorriso na cara e canta "o malhão, malhão" e o "tiroliroli, tiroliroló".
O sorriso e a boa disposição são apenas trocados pela emoção quando recorda alguns amigos. É com lágrimas nos olhos que recorda Filipe dos Santos, seu colega de curso e "um grande médico". Nasceu em Cabo Verde e veio para Portugal estudar. "Tinha impressão desagradável das pessoas e pensava que seria mal recebido por causa da cor. Afinal foi o contrário", conta o médico, recordando que tal como ele, Filipe dos Santos também foi jogador da Académica, e quando "passava pela rua, vinham todos abraçá-lo".
O amigo regressou à terra após ter terminado o curso. "A saudade de Portugal matou-o", conclui. "
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in JN online, 08-12-2008
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Nota do editor deste blog: Fazendo uma busca no Google sobre o Dr. Isabelinha, encontrei uma bonita homenagem feita num blog em Dezembro de 2007:
"Hoje, dia 5 de Dezembro, completa 99 anos o Dr. Joaquim Gonçalves Isabelinha, ilustre oftalmologista de Santarém.
O Dr. Isabelinha, com quem troco correspondência, nasceu em Almeirim, fez o Liceu em Santarém e em 1930 rumou a Coimbra para cursar Medicina, tendo terminado o Curso em 1936. Jogou na Briosa e por um pouco falhou a 1 ª taça de Portugal de 1939, ganha pela Briosa.
Exerceu sempre medicina em Santarém, na casa onde actualmente habita, no Largo Sá da Bandeira, junto da Sé Catedral de Santarém. Como médico, celebrizou-se não só pela sua eficácia como oftalmologista, mas também, como "médico dos pobres", pois deu milhares de consultas grátis, tal como milhares de cirurgias. Aposentou-se há 2 anos, portanto, aos 97, porque, segundo me disse numa visita que lhe fiz, o filho estava sempre a dizer que ele precisava de descansar.
Memória viva de Coimbra da década de 1930, parabéns ao Dr. Isabelinha que, actualmente, é o jogador da Briosa com mais idade vivo."
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1 comentário:
Precisamos urgentemente de mais Homens, sim Homens com um H maiusculo como o Drº Isabelinha. Que alguns médicos aprendam algo com ele.
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