quarta-feira, 10 de junho de 2009
António Sousa Duarte: Homenagem de Cavaco a Salgueiro Maia é "envergonhada"...
Para António Sousa Duarte - autor de uma biografia sobre aquele capitão de Abril, intitulada "Salgueiro Maia - Um homem da Liberdade" -, a homenagem de hoje de Cavaco Silva ao capitão de Abril é "justa", mas "tímida, envergonhada, discreta e muito fugaz", sendo ainda "um erro em cima de outro erro", ou seja, "um duplo erro".
Em declarações à agência Lusa, António Sousa Duarte considera que, embora não se pedisse hoje ao Presidente da República que fizesse um "pedido de desculpa" em relação ao que fez há 20 anos - quando, enquanto primeiro-ministro, recusou a atribuição de uma pensão àquele capitão de Abril - ter-lhe-ia "bastado, com humildade, dizer que, em circunstâncias análogas, não faria o que fez há 20 anos".
Para o investigador, a homenagem de hoje do Presidente da República a Salgueiro Maia é a "assumpção" e o "reconhecimento" de "um erro".
O autor da biografia de Salgueiro Maia afirmou que "de homenagens póstumas está Salgueiro Maia farto".
Sousa Duarte disse também que a homenagem de hoje do Presidente da República foi "tenuamente anestesiada", o que "prova" que "continua tudo como dantes".
Em 1988, o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusou atribuir a Salgueiro Maia uma pensão que tinha sido pedida pelo capitão de Abril pelos "serviços excepcionais e relevantes prestados ao país" devido à sua participação no 25 de Abril, para a qual nunca obteve resposta, segundo declarações da viúva de Salgueiro Maia.
Aliás, a opinião de António Sousa Duarte contrasta com a da viúva do capitão de Abril, Natércia Salgueiro Maia que, em declarações ao jornal Público relativizou a controvérsia da não atribuição de pensão ao marido.
Natércia Salgueiro afirmou ao jornal Público que não seria "altura para entrar em polémicas".
A recusa ou a falta de resposta ao pedido de Salgueiro Maia só vieram a público três anos depois quando Cavaco Silva concordou com a atribuição de pensões a dois ex-inspectores da PIDE, um dos quais estivera envolvido nos disparos sobre a multidão concentrada à porta da sede daquela polícia política.
Só em 1995, já com António Guterres como primeiro-ministro, Salgueiro Maia viria a receber uma "pensão de sangue".
in DN online, 10-6-2009
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