Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Estudo de psicóloga revela: Justiça 'tortura' crianças que são abusadas...

«Estudo de psicóloga revela que envolvimento de menores em processos judiciais é sempre uma experiência traumática. Em média, as crianças são sujeitas a oito interrogatórios.

Rúben tem 10 anos e foi abusado sexualmente pelo pai, mas quando denunciou a situação foi estigmatizado pela família que o abandonou. O mesmo aconteceu a Catarina, de 12 anos. Todos os familiares lhe viraram as costas. Os dois residiam na região do Porto, mas hoje estão institucionalizados. Foi o destino que lhes deram após o julgamento dos agressores, em ambos os casos pelos respectivos pais. Hoje arrependem-se de "terem aberto a boca" pois, para além de terem sido abusados sexualmente, foram depois confrontados com o "martírio judicial" que se seguiu. Em Portugal, em média, as crianças vítimas deste crime são sujeitas a oito interrogatórios diferentes tornando-se a experiência de denunciar a verdade negativa e traumática.


Este é, pelo menos, o resultado de um estudo realizado por Catarina Ribeiro, psicóloga no Centro de Investigação e Clínica Forense, que transformou em livro "A Criança na Justiça" , lançado amanhã pela livraria Almedina, no Arrábida Shopping, em Gaia. Mas a principal conclusão do trabalho é a de que as instituições não dão o apoio necessário às vítimas devido a uma falta de articulação entre o sistema judicial e o de protecção. "A falta de preparação dos agentes envolventes, de compreensão do desenvolvimento infantil, é evidente tanto ao nível da polícia, como dos juízes, dos magistrados do Ministério Público e até mesmo dos psicólogos e o que acontece é que as crianças são confrontadas com um excesso de perguntas, repetições dos inquéritos, existindo toda uma vulnerabilidade dos técnicos envolvidos", afirma Catarina Ribeiro. Esta docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto analisou 30 processos do Círculo Distrital Judicial do Porto e entrevistou 15 crianças vítimas de abuso sexual intrafamiliar com idades entre os oito e os 12 anos. "Apercebi-me da ambivalência de sentimentos que demonstravam relativamente aos sistema judicial. Se por um lado consideravam que através da justiça os comportamentos de abuso terminam, por outro, achavam doloroso a repetição dos testemunhos", justifica.

A percepção dos menores acaba por ser a de que o seu testemunho não é valorizado o que para Catarina Ribeiro torna-se "preocupante quando muitas das vezes é esse o único meio de prova". A docente aponta o modelo seguido nos países nórdicos como o ideal em que as crianças são interrogadas uma ou duas vezes com todos os elementos necessários para o julgamento do processo presentes. Esta "inoperância" do sistema português leva a que o menor saia do tribunal "sem um projecto de vida" delineado, depois mais agravado quando a estruturas de acompanhamento falham. »

in DN online, 18-6-2009

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"Horta do Zorate" é o blogue pessoal de Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo em autoconstrução desde 1958.