«Lisboa, 17 Jun (Lusa) - O maestro José Calvário, hoje falecido, nasceu no Porto em 1951 e o piano foi um dos primeiros e marcantes "encontros" da sua vida. Tinha seis anos quando deu o seu primeiro recital, no Conservatório de Música daquela cidade.
Não muito tempo depois, com 10 anos, já então sabendo ler partituras, deu o primeiro concerto. A orquestra foi a Sinfónica do Porto, dirigida pelo maestro Silva Pereira.
Parecia encaminhado para uma carreira na música clássica mas assim não foi. Outras experiências lhe estavam reservadas e outra havia de ser a música em que se tornaria conhecido.
Depois do Porto, a etapa seguinte foi a Suíça, onde os pais queriam que se formasse em Economia.
Na Suíça, Calvário aceita o convite de colegas estudantes e integra uma orquestra de jazz. Os estudos postos de lado, acaba por receber dos pais a ordem de regressar, e cumpre-a.
Em 1971 está em Lisboa e um dia lê um anúncio do Festival da Canção. Decide concorrer - mal sabendo então que um ciclo decisivo da sua vida se inaugurava então.
Logo ano seguinte, com José Niza, representa Portugal na Eurovisão e o resultado é assinalável.
A canção portuguesa consegue então uma das melhores classificações de sempre.
Regressará ao Festival com Niza e a canção "E depois do adeus", que algum tempo depois seria uma das canções-chave do 25 de Abril.
Grava com cantores como Adriano Correia de Oliveira, Fernando Tordo, Carlos Mendes, entre outros, e a sua presença no cenário musical internacional intensifica-se. Recebe solicitações de diversas etiquetas.
Regressa à Suíça, onde permanece durante algum tempo trabalhando como jornalista, mas Portugal volta a impor-lhe o seu apelo.
"Saudades", um álbum de 1985, gravado com a Orquestra Sinfónica de Londres, é um sucesso de vendas. Calvário é já então um maestro e compositor conceituado em estúdios como o de Abbey Road, como assinalou à Lusa o cantautor Fernando Tordo.
Nos anos seguintes, a internacionalização prossegue e Calvário recebe, de vários quadrantes, convites para dirigir orquestras, gravar, compor. Os álbuns que grava são da ordem das dezenas, pagos alguns a expensas próprias. Ele tinha um "talento absolutamente invulgar", nas palavras de Tordo.
O mesmo Tordo assinalou à Lusa um outro traço da personalidade de Calvário: era, disse, uma figura "controversa, como convém a um artista".
Essa característica o terá levado, há poucos anos, a contestar a actual direcção da Sociedade Portuguesa de Autores, que acusou de ter cometido várias irregularidades.
Estava doente há oito meses, em "estado vegetativo" desde que o acometera um enfarte. »
Lusa, 17-6-2009
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